Saturday, July 9, 2011

CONTO DA COBRA- CASO VERÍDICO



Teria eu, uns 6 ou 7 anos. Nesse dia, minha mãe preparava-se para fazer o almoço para a família. Enquanto, eu brincava á porta de casa.

De repente, ouço um grito, vindo de dentro de casa, que me assustou. Alarmada, fui ver o que se passava. Vinha minha mãe a correr. Passou por mim, deitou-me ao chão, sempre a gritar e a fugir para a rua. Levantei-me assustada e passou-me pela cabeça que minha mãe tinha acabado de enlouquecer. Corri também para a rua. Minha mãe gritava, e gritava. Começaram a chegar as vizinhas! Queriam saber o motivo daquele alarido.

Minha mãe, tinha ficado sem fala, durante algum tempo. De nada, valia perguntar o que lhe tinha acontecido. Uma vizinha mais entendida na matéria sugeriu, que lhe fossem buscar um copo de água com açúcar, para ela acalmar. Outra vizinha, sem diploma, fez logo ali o seu diagnóstico! Ela foi tomada por um espírito! Os espíritos não falam, vejam que ela quer, mas não consegue falar. Quando o copo da água com açúcar a acalmou, consegui então dizer que tinha uma cobra na despensa. Que era muito grande e que não entrava em casa enquanto a cobra não saísse.

Todas aquelas mulheres, à sua volta, eram mulheres corajosas, guerreiras mesmo, mas nenhuma se atreveu a entrar dentro de casa. Uma delas virou-se para mim. – Vai chamar o teu pai à horta. Tem que vir matar a cobra.



Eu chorava, por não entender, o que se estava a passar. Lá fui eu, cheia de medo. Já via cobras, em todo lado e chorando, lá encontrei meu pai, que, espantado, por me ver ali, ainda por cima chorando, pensou logo que tinha acontecido alguma desgraça em casa.

- Que se passa Maria? Porque choras?

Tem que vir para casa. A mãe não para de gritar que viu uma cobra muito grande na despensa! - Coisas de mulheres! Comentou simplesmente, meu pai.

- Vamos lá então ver essa enorme cobra! Quando chegámos á aldeia ainda minha mãe estava sentada, num banco, fora de casa.

Então, onde viste a cobra mulher? É grande ou pequena?

Resposta da minha mãe:- tem 2 metros de cumprimento e é da largura do meu braço. -Tu tem juízo mulher, nesta zona não existem cobras desse tamanho. Essas cobras só existem em África, retorquiu meu pai, tentando serenar as coisas.

Entrou na despensa, procurou a grande cobra e não viu nada.

 - Mulher podes entrar dentro de casa que a cobra se entrou, já saiu. – Não entro em casa enquanto não matares a cobra. Não faço almoço para ninguém, hoje. Ouviste?

Voltou a entrar meu pai e removeu tudo o que havia na despensa, até que viu algo, muito pequeno, por detrás de uma talha de azeitonas. Era a cobra. Tinha tanto medo da minha mãe, como minha mãe tinha dela. Sua defesa, quando assustadas, é enrolarem-se para passarem despercebidas. Meu pai pegou na cobra, que mediu. Tinha 30 cm de cumprimento era da largura do dedo médio dele. Pegou-lhe na cabeça, dela e logo ela se enrolou ao braço do meu pai que ria de gozo pelo medo da minha mãe. Então esta é que é a cobra que tu viste? Tenho-a aqui e ela não me faz mal. Toda a gente se afastou com medo da pequena cobra.

Por favor mata a cobra, senão hoje não entro em casa.

Tem juízo mulher. Esta cobra foi á tua despensa fazer-te um favor. Ela come os ratos que andam por lá e te podem transmitir doenças. Ela é tua amiga e não inimiga.

Ficam todas a saber que o habitat das cobras é no campo. Antes de esta aldeia existir, já elas por cá andavam.

Vocês são muito ignorantes. Vou levar a bicha e largá-la no campo.

Meu pai, deu sua tarefa como comprida e voltou aos seus afazeres.

Minha mãe recompôs-se, mas nesse dia não entrou mais na despensa. Tive que ficar eu de plantão, sentada na cozinha. Qualquer coisa que minha mãe queria da despensa, chamava por mim para a ir buscar.

Isto passou-se na minha infância e a lição que tirei daquele episódio serviu-me para a vida inteira. Ao longo dos anos, também tive os meus encontros com pequenas cobras. Sempre as respeitei, dando-lhe espaço para se afastarem. Nunca matei nem ameacei nenhuma. Elas sempre fugiram de mim.



Isto, levou-me a pensar no efeito, que o medo produz em nós! Minha mãe naquele dia, viu o que os marinheiros viam no cabo da Boa esperança. O gigante ADAMASTOR, que virava barcos e engolia homens…



Minha mãe, sem nunca ter saído daquela aldeia nem nunca ter estado em África, viu uma jibóia…



CONCLUSÂO: “O MEDO SAI DO MEDO E O MEDO NÂO È NADA”

Provérbio da minha aldeia.

Por: Joaquina

7/7/2011


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