Monday, July 25, 2011

CONTO DA CAPOEIRA- CASA VERIDICO



Quando eu era uma menina, minha mãe mandou-me levar o almoço ao meu avo. Estava na hora do intervalo da escola e ele estava na horta, a trabalhar.

Tinha que passar por uma ribeira. Para a atravessar, tinha que saltar umas pedras, lá colocadas por pessoas, adultas. Minhas pequenas pernas tremiam só de pensar em atravessar aquela ribeira.

Mas como criança que era, em vez de continuar meu caminho, tirei a cesta da cabeça e fiquei a brincar nas margens da ribeira. Quando dei conta que meu avo deveria estar à espero do almoço, acordei daquele sonho inocente. Não tinha tido a noção do tempo.



Com a coragem possível, e a pressa, comecei a pular de pedra em pedra. Quando já estava no meio da ribeira com a cesta do almoço á cabeça, desequilibrei-me. CaÍ na ribeira e a cesta, com almoço, começou a boiar, indo encalhar nuns ramos de salgueiro, numa parte mais funda.

Ainda tentei salvar o almoço. Mas o medo de me afogar era tal, que resolvi voltar para casa e contar o sucedido à minha mãe. Pelo caminho tentei inventar uma história. E que não tinha culpa do acidente. Mas com a consciência pesada, tive medo do castigo e escondi-me, no inicio da aldeia, num galinheiro.

Meu avô, vendo que o almoço não chegava, foi até casa saber o que tinha acontecido.

Entra em casa vê minha mãe tranquila nos seus afazeres. Quando vê meu avo entrar, espavorido, logo ali percebeu, que algo estava errado.

- Então o meu almoço? Pergunta à minha mãe!

- Mandei a Maria levar-lho á mais de 2 horas.

- Como assim? Ela não apareceu!

Minha mãe que era mãe galinha desata num desatino, sem saber o que teria acontecido á sua menina…

Meu avo por seu lado também ficou aflito.

-Alguma coisa aconteceu á miúda. Ela nunca me faltou com o almoço. Estava convencido que tu te tinhas esquecido de mim. Sendo assim, o assunto é outro. Temos que ir procurar a miúda.

Saíram os dois de casa e perguntaram às vizinhas, que moravam perto do caminho, se me haviam visto passar. Algumas delas afirmaram terem-me visto com a cesta á cabeça. As horas iam passando eu não aparecia. Logo meu avo pensou que eu tivesse caído á ribeira e me tivesse afogado. Juntaram-se varias pessoas e foram procurar na ribeira. Minha mãe assim que viu a cesta encalhada no salgueiro, logo ali assumiu que eu tinha morrido afogada e que a corrente me teria levado. Os homens, os únicos que sabiam nadar, lá foram procurando em tudo que era mais profundo. Mas nem vestígios da Maria.

Depois de muita procura, deram as buscas como terminadas. Naquele dia. Toda a gente chorava a minha morte. De volta á aldeia cada um foi para sua casa. Minha mãe e o resto da família, inconsolável, não podiam acreditar em tão má sorte!

Eu, no galinheiro escondida, chorava muito. Depois veio o sono e dormi. No galinheiro, em cima de um monte de palha.

Ao anoitecer, como sempre acontecia, as galinhas dirigiam-se para o galinheiro. Deram por mim e alvoroçadas, fugiram para a rua. Uma vizinha ao ver aquele alvoroço da bicharada, chamou outra, para ver o que se passava no galinheiro. As galinhas entravam e voltavam a sair e isso não era normal. Devia haver alguma raposa lá dentro.

Pegaram numas grandes paus e começaram a remexer, a partir de fora, o galinheiro. Usavam o buraco onde entravam as galinhas, deixando a porta aberta para que a raposa fugisse. Quando um dos paus me atingiu, acordei. Pedi para não me baterem. Quando as duas viram que era eu, elas tinham andado toda a tarde á minha procura, ficaram furiosas.

- Saí cá para fora sua malandra.

- O que fazes dentro do galinheiro?

- Fiquei-me a dormir e não queria ir para casa porque deixei cair o almoço do meu avo na ribeira.

- Pois é. Mas agora arranjas-te uma ainda pior. Toda a gente a pensar que tinhas morrido..

- Vou chamar o teu pai..

- Não, por favor. Deixe-me dormir aqui. O meu pai vai dar-me uma tareia.

- Seja como for, não podes ficar aqui.

Depois de avisada a minha família, vêm o meu pai e o meu avo buscar-me.

Meu pai agarrou-me pela mão e só disse:_ em casa vamos ter uma conversa.

Cheguei a casa envergonhada e suja de caca de galinha.

Meu pai preparava-se para me dar uma tareia com um cinto. Meu avô, apesar de austero, era um homem muito recto.

- Conta lá afinal Maria o que se passou. Toda a gente da aldeia foi incomodada com esta brincadeira. Explica o que te aconteceu.

Lá contei toda a verdade. Que me escondi com medo de levar uma tareia. Mas que depois, adormeci. Meu avô ficou comovido e compreendeu o que se tinha passado dentro da minha pequena cabeça. – és uma tonta, bastava teres ido chamar-me e tinha evitado toda esta confusão.  Ninguém bate em ninguém, olhando para o meu pai que já tinha o cinto na mão.

O teu castigo é ires para a cama sem comeres. Só espero que isto não se repita. Ouviste bem, minha menina?

Por: Joaquina
07/07/2011

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