Wednesday, July 27, 2011

CONTO DA CAPOEIRA - CASO VERÍDICO


Quando eu era uma menina, com uns 9 anitos, minha mãe mandou-me, levar o almoço ao meu avô, na hora do intervalo da escola, que estava na horta a trabalhar.

Tinha que passar por uma ribeira. Para a atravessar, tinha que saltar umas pedras, colocadas lá, por pessoas adultas. Minhas pequenas pernas tremiam, só de pensar em atravessar, aquela ribeira.

Mas como criança que era, em vez de continuar meu caminho, tirei a cesta da cabeça e fiquei a brincar a beira da ribeira. Quando me dei conta que meu avô devia estar á espero do almoço, acordei daquele sonho inocente, tinha perdido a noção do tempo.

Com a coragem possível, e a pressa, comecei a pular de pedra em pedra, quando já estava no meio da ribeira, com a cesta do almoço á cabeça, desequilibrei-me. Cai na ribeira e a cesta, junto com almoço começou a boiar, indo ficar encalhada nuns ramos de salgueiro numa parte mais funda.

Ainda tentei salvar o almoço, mas o medo de me afogar era tal, que resolvi, voltar para casa e contar o sucedido a minha mãe. Pelo caminho tentei inventar uma história, de que não tive culpa do acidente. Mas com a consciência pesada, tive medo do castigo e escondi-me no inicio da aldeia num galinheiro.

Meu avô como o almoço não chegava, foi até casa saber, o que tinha acontecido.
Entra em casa vê minha mãe tranquila nos seus afazeres. Quando ela, vê meu avo entrar espavorido, logo ali percebeu, que algo estava errado.

- Então o meu almoço? Pergunta á minha mãe!
- Mandei a Maria levar-lho á mais de 2 horas.
- Como assim? Ela não apareceu!

Minha mãe, desata num desatino, sem saber o que teria acontecido á sua menina…
Meu avô por seu lado, também ficou aflito.
- Alguma coisa, aconteceu á miúda. Ela nunca me faltou com o almoço.
 Estava convencido, que tu te tinhas esquecido de mim.
Sendo assim o assunto é outro. Temos que ir procurar a miúda.
Saíram os dois de casa, procurando ás vizinhas, que moravam perto do caminho, se me haviam visto passar.

Algumas delas afirmaram, terem-me visto passar com a cesta á cabeça.
As horas iam passando, eu não aparecia. Logo meu avô, pensou que eu tivesse caído á ribeira, e me tivesse afogado.

Juntaram-se varias pessoas e foram procurar na ribeira.
Minha mãe, assim que viu, a cesta encalhada nos ramos do salgueiro, logo ali assumiu que eu tinha morrido afogada. A corrente deveria ter-me levado!!. Os homens, os únicos que sabiam nadar, lá foram procurando, em tudo que era mais profundo, mas nem vestígios da Maria.

A noite começou a chegar e deram as buscas como terminadas por aquele dia. Toda a gente chorava pela minha morte. De volta á aldeia cada um foi para sua casa. Minha mãe e o resto da família inconsolável, não podiam acreditar em tal tragédia.

Eu, no galinheiro, onde me  escondi, chorei muito, mas depois veio o sono e dormi no galinheiro, em cima de um monte de palha.

Quando as galinhas se dirigiam para o galinheiro, davam por mim, e alvoroçadas fugiam para fora, logo uma vizinha chamou outra, para ver o que se passava no galinheiro. Não era normal o comportamento das galinhas. Entravam e voltavam a sair. Devia haver alguma raposa lá dentro.

Pegaram nuns grandes paus e começaram, a remexer de fora o galinheiro. Quando um dos paus me atingiu acordei: Pedi para não me baterem. Quando as duas viram, que era eu que estava lá entro e que tinham andado toda a tarde á minha procura, ficaram furiosas.

- Saí cá para fora, sua malandra!
- O que fazes dentro do galinheiro?
- Fiquei-me a dormir e não queria ir para casa, porque deixei cair o almoço do meu avô na ribeira.
- Pois, arranjaste uma bela encrenca, toda a gente a pensar que tinhas morrido..
- Vou chamar o teu pai.
- Não por favor deixe-me dormir aqui. O meu pai vai dar-me uma tareia.
- Seja como for, não podes ficar aqui.

Depois de avisada a minha família, vem o meu pai e o meu avô buscar-me.
Meu pai agarrou-me na mão e só disse: - em casa vamos ter uma conversa…
Cheguei a casa envergonhada e suja de caca de galinha.
Meu pai preparava-se para me dar uma tareia, de cinto.
Meu avô apesar de austero erra um homem muito recto.

- Conta lá afinal Maria, o que se passou, toda a gente da aldeia, foi incomodada com esta brincadeira. Explica-te! O que aconteceu?

Lá contei toda a verdade. Que me escondi, com medo de levar uma tareia. Mas que depois adormeci. Meu avo ficou comovido e compreendeu o que se tinha passado dentro da minha pequena cabeça. – És uma tonta. Bastava teres ido chamar-me e tinha-se evitado toda esta confusão… ninguém bate em ninguém! e olhou para o meu pai que já tinha o cinto na mão..

O teu castigo é ires para a cama sem comeres. Só espero que isto não se repita. Ouviste minha menina!

Amanha eu tu temos muito que conversar, diz-me meu avô!
Assim foi. Teve comigo uma conversa tão inteligente que ainda hoje me serve de lição.
Por Joaquina
09/07/2011

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