Quero dizer, a quem lê
minha escrita, que ela não é para eruditos.
Minha escrita é humilde.
Mas não é directa. Tem mensagens, pelo meio, escondidas. Todos a podem ler
porque, no fim, só não a irá entender, aquele, que for erudito.
Sou autodidacta. Formei-me
na vida. Nas livrarias. Em todos as páginas que li. Desde a filosofia antiga
até aos autores consagrados, tudo li, tudo devorei. Até que me formei. Minha
mente, sempre atenta, separou o que necessitava. Devagar me levou àquilo de que
gostava.
Escrevo para gente como
eu. Para si, que é anónima, sincera, com necessidade de saber, que não gosta do
seu tempo perder. E muitos são aqueles que como eu pensam.
Então pensei como haveria
de chegar a muita gente. Foi aí que se deu o clique. Num repente. Decidi que
iria escrever para outras gentes!
Eu tinha recados para dar.
Mas vivo sozinha comigo. O meu dia é preenchido entre caminhar, escrever e
divulgar. Já nasceu comigo este enigma da escrita. A paixão pela leitura e
também pela aventura.
Embora mulher, sou
diferente da maioria das mulheres. Não gosto de perder tempo. Não sou tagarela
e não aprecio os gostos de muitas delas. Não gosto de limpar o pó. Mas gosto de
estar só. Gosto de viajar no tempo. Conhecer outras gentes. Nos intervalos
escrevo, invento.
Tenho, em mim, algo de
extraordinário. Minha mente, descontente, está sempre a desafiar-me. Já tentei
tudo. Desde cozinhar, bordar, pintar e no campo trabalhar. Mas de todas as
tarefas, aquela que mais sinto, é a minha escrita. Por isso escrevo. Diálogo
directo para qualquer intelecto.
Não sou passiva, não! Nem
tão-pouco indiferente! Por isso escrevo como a força de um dragão. É algo que
comanda a minha mão. Não precisei de universidade para saber o que era a
diversidade. Escrevo prosa, tanto para a rosa, como para o poeta maldito, que
nesta sociedade é proscrito.
Mas não sou erudita!
Um erudito tem a mente
fechada. Carece da universidade.
Um erudito necessita de
fazer consulta, para elaborar um discurso.
Deveria estar atento,
ouvindo a mente, à sua frente.
Um erudito precisa de
exibir um papel carimbado, para mostrar que é letrado.
Um erudito da palavra faz
um bordado. Para deixar um recado.
Tentando ser crítico, quem
o ler, necessita de um dicionário. Para o entender.
Um académico não tem
paixão. Escreve por obrigação.
Nada sabe fazer. Mas
critica quem souber mais do que ele.
É alguém que veste bem.
Tem o ego cheio. No seu meio.
Assim, aqui deixo o que
penso sobre eruditos, académicos ou catedráticos.
Muita gente, mais
inteligente anda, por aí, perdida. Por não saber que tem, consigo, as chaves do
segredo.
Nem todos podemos ser
doutores. De tudo é formado o mundo. O nosso lugar é aquele onde o coração bate
devagar. Todos nós temos os nossos talentos. Por isso, a todos os que me lêem,
lhes peço. Descubram o vosso segredo.
Se, por acaso, encontrarem
dentro da minha escrita, algo que vos incite, no vosso presente, algo que vos
possa fazer sentir ou reviver algo agradável vivido em vossas vidas, então já
valeu a pena esta minha conversa com Deus.
Eu sou a enseada
Eu sou a estrada.
Eu sou os espinhos
Eu sou caminhos
Eu sou a corrente
Eu sou meus rios.
Eu sou a pura alegria.
Eu sou de todos
Eu não sou de ninguém.
Eu sou o momento
Eu sou alguém.
Eu sou aquela que se não
detém.
Eu sou tudo, enfim
Eu sou nada, por fim.
Mas eu sou fragmento,
espalhado, no universo criado.
Faço, de minha prosa,
recados pungentes. Que vão ao encontro das gentes. Tudo o que sei, tudo o que
faço, é um acto de amor. Embrulhado em laços de humanidade.
Queria que soubessem,
aqueles que me lêem, que sou normal. Apenas mais atenta. Dentro do vendaval.
Autora: Joaquina Vieira
26/04/2016