Saturday, July 30, 2011

CONTO DA COBRA- CASO VERIDICO


 

Teria eu, uns 6 ou 7 anos. Nesse dia, minha mãe preparava-se para fazer o almoço para a família. Enquanto, eu brincava á porta de casa.

De repente, ouço um grito, vindo de dentro de casa, que me assustou. Alarmada, fui ver o que se passava. Vinha minha mãe a correr. Passou por mim, deitou-me ao chão, sempre a gritar e a fugir para a rua. Levantei-me assustada e passou-me pela cabeça que minha mãe tinha acabado de enlouquecer. Corri também para a rua. Minha mãe gritava, e gritava. Começaram a chegar as vizinhas! Queriam saber o motivo daquele alarido.

Minha mãe, tinha ficado sem fala, durante algum tempo. De nada, valia perguntar o que lhe tinha acontecido. Uma vizinha mais entendida na matéria sugeriu, que lhe fossem buscar um copo de água com açúcar, para ela acalmar. Outra vizinha, sem diploma, fez logo ali o seu diagnóstico! Ela foi tomada por um espírito! Os espíritos não falam, vejam que ela quer, mas não consegue falar. Quando o copo da água com açúcar a acalmou, consegui então dizer que tinha uma cobra na despensa. Que era muito grande e que não entrava em casa enquanto a cobra não saísse.

Todas aquelas mulheres, à sua volta, eram mulheres corajosas, guerreiras mesmo, mas nenhuma se atreveu a entrar dentro de casa. Uma delas virou-se para mim. – Vai chamar o teu pai à horta. Tem que vir matar a cobra.



Eu chorava, por não entender, o que se estava a passar. Lá fui eu, cheia de medo. Já via cobras, em todo lado e chorando, lá encontrei meu pai, que, espantado, por me ver ali, ainda por cima chorando, pensou logo que tinha acontecido alguma desgraça em casa.

- Que se passa Maria? Porque choras?

Tem que vir para casa. A mãe não para de gritar que viu uma cobra muito grande na despensa! - Coisas de mulheres! Comentou simplesmente, meu pai.

- Vamos lá então ver essa enorme cobra! Quando chegámos á aldeia ainda minha mãe estava sentada, num banco, fora de casa.

Então, onde viste a cobra mulher? É grande ou pequena?

Resposta da minha mãe:- tem 2 metros de cumprimento e é da largura do meu braço. -Tu tem juízo mulher, nesta zona não existem cobras desse tamanho. Essas cobras só existem em África, retorquiu meu pai, tentando serenar as coisas.

Entrou na despensa, procurou a grande cobra e não viu nada.

 - Mulher podes entrar dentro de casa que a cobra se entrou, já saiu. – Não entro em casa enquanto não matares a cobra. Não faço almoço para ninguém, hoje. Ouviste?

Voltou a entrar meu pai e removeu tudo o que havia na despensa, até que viu algo, muito pequeno, por detrás de uma talha de azeitonas. Era a cobra. Tinha tanto medo da minha mãe, como minha mãe tinha dela. Sua defesa, quando assustadas, é enrolarem-se para passarem despercebidas. Meu pai pegou na cobra, que mediu. Tinha 30 cm de cumprimento era da largura do dedo médio dele. Pegou-lhe na cabeça, dela e logo ela se enrolou ao braço do meu pai que ria de gozo pelo medo da minha mãe. Então esta é que é a cobra que tu viste? Tenho-a aqui e ela não me faz mal. Toda a gente se afastou com medo da pequena cobra.

Por favor mata a cobra, senão hoje não entro em casa.

Tem juízo mulher. Esta cobra foi á tua despensa fazer-te um favor. Ela come os ratos que andam por lá e te podem transmitir doenças. Ela é tua amiga e não inimiga.

Ficam todas a saber que o habitat das cobras é no campo. Antes de esta aldeia existir, já elas por cá andavam.

Vocês são muito ignorantes. Vou levar a bicha e largá-la no campo.

Meu pai, deu sua tarefa como comprida e voltou aos seus afazeres.

Minha mãe recompôs-se, mas nesse dia não entrou mais na despensa. Tive que ficar eu de plantão, sentada na cozinha. Qualquer coisa que minha mãe queria da despensa, chamava por mim para a ir buscar.

Isto passou-se na minha infância e a lição que tirei daquele episódio serviu-me para a vida inteira. Ao longo dos anos, também tive os meus encontros com pequenas cobras. Sempre as respeitei, dando-lhe espaço para se afastarem. Nunca matei nem ameacei nenhuma. Elas sempre fugiram de mim.



Isto, levou-me a pensar no efeito, que o medo produz em nós! Minha mãe naquele dia, viu o que os marinheiros viam no cabo da Boa esperança. O gigante ADAMASTOR, que virava barcos e engolia homens…



Minha mãe, sem nunca ter saído daquela aldeia nem nunca ter estado em África, viu uma jibóia…



CONCLUSÂO: “O MEDO SAI DO MEDO E O MEDO NÂO È NADA”

Provérbio da minha aldeia.

Por: Joaquina

7/7/2011



 

O CONTO”A PEDRA”


Tudo começou com uma pequena pedra.

No início, ela era pequena, mas o homem, inventor por natureza, pensou o que poderia fazer com uma pequena pedra que, no seu entender, pouca serventia poderia ter… Aos poucos, sempre que via uma levava-a para sua caverna.

Ao longo dos anos foi amontoando tanta pedra que sua caverna ficou sem espaço.

Depois de muito pensar, resolveu fazer com elas uma experiência.

Com terra e água fez uma argamassa e foi colocando pedrinhas, umas por cimo das outras.

Não tinha ideia do que fazer com elas. Por fim, sai-lhe a forma da sua caverna em ponto pequeno, larga por dentro mas com uma pequena abertura.

Resolveu experimentar a dureza da pedra e fez, dentro do buraco, um fogo que deu origem a uma fogueira.

O fogo aqueceu a pedra e uniu-a aos outros elementos.

E com tanto calor resolveu atirar para a fogueira umas pedras maiores

Seu espanto foi tal que chamou os vizinhos que nada sabiam da sua experiência com a pedra e o fogo.

Reparou que poderia adquirir aquecimento para as frias noites de Inverno. As pedras aguentavam bem o calor, naquela casa que ele pensava ter construído. Descobriu o forno que tanto lhe tem servido, ao longo dos anos. Até aos dias de hoje.



Já teve muito mais funções. O tempo não se condoeu com a invenção do primeiro homem que o descobriu.

O homem viu as mil e umas funções que poderia ter a pedra. A seguir e com elas construíram-se utensílios domésticos, como: mesa, cama, banco, adornos, muros de protecção. Embora ainda de forma muito incipiente, começou aí a escultura. Obras ainda hoje visitadas e admiradas.



Mas a pedra é mais do que isso! Ela ajuda-nos na vida, ainda hoje. Sua durabilidade não tem limites. De vez em quando encontram-se objectos e construções feitas há milénios pelos homens que, com engenho e trabalho, deixarão sua obra para os tempos vindouros. Hoje eu faço colecção de brasões que se encontram, imponentes, por essa Europa fora. Mostram, a quem esteja atento ao seu simbolismo, que ali morou alguém, de posição e fortuna, ou simplesmente para glorificar o nome de uma família.



Penso nos artistas que trabalham ou trabalharam a pedra, essencialmente nos primórdios dos artesões. Com as suas mãos ensanguentadas, cobertas por trapos continuavam a dar forma, com o seu pincel, a obras de arte que lhes sobreviveriam, para regalo dos meus olhos.

Admiradora de trabalhos de pedra, tenho que voltar um pouco mais a trás. Sem querer fazer um trabalho exaustivo. Para isso lá estão os peritos que o fazem a nível científico, melhor que eu.

Da minha alma brota uma admiração imensa sobre o trabalho feito em pedra bruta que muitas vezes levava séculos para ser finalizado.



A pedra começou a servir a humanidade como abrigo. A seguir como ferramenta e depois com adorno. Mais tarde, construções megalómanas como as pirâmides e outros monumentos. Como fortalezas para defender senhores feudais e seus povos. Temos como exemplo ainda hoje a muralha da china.

Ao longo dos milénios ela sempre serviu o homem. Hoje ela está na minha vida. Minha casa é de pedra. Meu jardim é de pedra e meus caminhos por onde relaxo ainda são feitos de muros de pedra que noutros tempos, dividiram propriedades, famílias e dentro desses muros, muita gente se alimentava de pequenos rectângulos.



São poucos os vestígios que ainda encontro hoje no meio de altares de cimento e vidro. Cada vez é mais difíil de encontrar um brasão, por exemplo.

Mas qual a importância da pedra para mim?

Nasci em casa de pedra, trabalhei no meio de pedras. Fazia montes de pequenas pedras que se iam acumulando no meu caminho e numa horta onde tinha que passar a água.

Nada mais belo que uma estatua que imortalizou pessoas e famílias. Assim como os brasões, orgulho de quem tinha dinheiro para pagar esse trabalho árduo do artesão. Mas eles aí estão para regalo da nossa visão.

A pedra, elemento natural do planeta. Dentro de nós, humanos, correm vestígios de todos os seres que habitam no mesmo habitat.

Era uma vez uma pedre pequenina que entrou no meu sapato.

Eu incomodada, não quis dar-lhe importância. Aos poucos, á medida que eu andava, ela ia-me mordendo debaixo do meu pé, sensível.

Chegou a um momento. Tive que parar para tirar a pedra que ali se alojou. Qual não foi o meu espanto, ao ver o tamanho reduzido da pedra que mais parecia um grão de areia. Fiquei a matutar naquilo enquanto segui meu caminho.

Essa pequena ferida aos poucos foi infectando. Eu não liguei por pensar ser uma coisa menor. No fim do dia já eu me queixava.

A seguir, comecei a juntar todas as pedrinhas, ate conseguir, construir um jardim. Com elas foi amuralhado, protegido. Aos poucos foi crescendo até que já eram tantas as pedrinhas que resolvi, no jardim, construir um palácio, de pedra todo ornado. Como havia ainda muita pedra, construí uma igreja, a seguir. Resolvi então começar a pensar as muitas coisas que, com elas, poderia fazer. No planeta ela enfeita montanhas, serranias, minas, túneis por onde eu passo. Talhei a mesa, a cama também a mortalha. O tempo passou. Meu legado com as pedras continuou. Hoje detenho-me sempre que vejo pedra trabalhada ou em bruto. Sempre vejo nela utilidade. A pedra pode ser bruta ou um raro diamante. Por ele se mata no mundo. A pedra que tem mais cor, dela tira mais valor. Para mim toda ela é igual. Tal como nós, diferenciam-se pela cor. O homem deu-lhe a sua hierarquia. Entre elas existem as mais caras, as que mais brilham. Homens atiram outros homens para buracos sem fundo á procura da pedra rara. Vão até ao fim do mundo. Homens escravos passam vidas inteiras, envolvidos em poeiras. Morrem cedo, por doenças causadas pela ambição humana, sem nunca se queixarem. Vêm depois os pudicos que negoceiam no ramo. Criam obras de caridade para esconderem o contrabando.

Passeiam-se na passadeira vermelha, vedetas do acaso, com brilhantes presos á orelha, ou á vista da câmara.

Mas a pedra, perante a natureza, é toda igual. Não tem diferença nem cor. Apenas faz parte do mundo dos nossos horrores.

Aqui estou eu numa sala de hospital, apreensiva, com algo que pode estar mal. A pedra vai deixar para trás, com todo o seu encanto. Sempre me pareceu igual.

A meu lado outro ser sofre de ansiedade, por antecipação, por não saber controlar sua emoção.
Por: Joaquina
30/07/2011

AS MÃOS – JOAQUINA



MINHAS POBRES MÃOS
REQUEREM TODA ATENÇÃO
CANSADAS DO TEMPO
CALEJADAS POR INSTRUMENTOS
QUE DELAS FIZ BROTAR
ALEGREMENTE BATERAM PALMAS
SEM PERCEBEREM A RAZÃO
NEM COM QUE EMOÇAO
ELAS SE IRIA MAGOAR
MINHAS MAOS
JÁ FORAM INSTRUMENTO
PARA OUTROS ACARICIAR
PERCORRI COM ELAS
TODOS OS MEUS AFECTOS
QUE UM DIA ME IRIAM DEIXAR.
COMEÇARAM NO CAMPO
LOGOA TRABALHAR
EM TERRAS POR ARAR
OUTRAS POR SEMEAR
SEMPRE SE ESFORÇARAM
PARA QUE DELAS BROTASSE
O MELHOR QUE A TERRA DAVA
VEIO DEPOIS O DESENCANTO
ONDE DENTRO DE UM PRANTO
MINHAS MAOS SE JUNTARAM
NUNCA NELAS SENTI O JEITO
PARA AS ERGUER EM PRESSE
PEDIR COISAS SECRETAS
QUE DELAS NÃO DEPENDESSEM
VEIO DEPOIS OUTRO TEMPO
COM ELE OUTRO SENTIMENTO
ONDE MINHAS MAOS LABUTARAM
DE DIA, ERAM MÁQUINAS PREMENTES
DE NOITE AFECTOS QUENTES.
NELAS CARREGUEI,
O MUNDO INTEIRO
FRUTO DO MEU VENTRE
DAS MINHAS MAOS FIZ SEU NINHO.
MÃOS CALEJADAS, ESTAS MINHAS
QUE RECORDAM CERTA SINA
QUE HOJE AQUI VIM LEMBRAR.
O SANGUE QUE DELAS JÁ JORROU
FOI O ESFORÇO QUE O CAUSOU
QUANDO AINDA MENINA
TINHA TAREFAS A REALIZAR.
PASSARAM POR MUITA DUREZA
NUNCA ELAS PERDERAM A CERTEZA
QUE NASCERAM PARA OUTRA FUNÇÃO
GESTOS QUE DELAS SAÍAM
TANTO PODIAM FAZER RIR
COMO COMOVER CORAÇÕES
AOS POUCOS FUI APEENDENDO
COM ELAS FAZER PRENDAS
ATÉ CHEGAR À ESCRITA
CHEGOU UM DIA UM GRITO
ERAM MINHAS MAOS AFLITAS
RECLAMAVAM OUTRA FUNÇÃO
E COMECEI A OUVIR MEU CORAÇÃO
MINHA ALMA SE LEVANTOU
NAS MINHAS MAOS SE ENTREGOU
MINHA MENTE A ESCUTOU
NOVA TAREFA TINHA SURGIDO
COM AS MAOS ABRI AS PORTAS
ATÉ ALI ESTAVAM MORTAS
CALADAS, RETIDAS AS PALAVRAS
DENTRO DE UMA CELA FECHADA
FALTAVA-LHE O VEICULO
POR ONDE AS TRANSPORTAR.
MINHAS MAOS SE ABRIRAM
ESQUECERAM O SOFRIMENTO
DERAM RAZAO AO MOMENTO
ASSIM SURGIU A POESIA….
JOAQUINA
7/07/2011




Wednesday, July 27, 2011

CONTO DA CAPOEIRA - CASO VERÍDICO


Quando eu era uma menina, com uns 9 anitos, minha mãe mandou-me, levar o almoço ao meu avô, na hora do intervalo da escola, que estava na horta a trabalhar.

Tinha que passar por uma ribeira. Para a atravessar, tinha que saltar umas pedras, colocadas lá, por pessoas adultas. Minhas pequenas pernas tremiam, só de pensar em atravessar, aquela ribeira.

Mas como criança que era, em vez de continuar meu caminho, tirei a cesta da cabeça e fiquei a brincar a beira da ribeira. Quando me dei conta que meu avô devia estar á espero do almoço, acordei daquele sonho inocente, tinha perdido a noção do tempo.

Com a coragem possível, e a pressa, comecei a pular de pedra em pedra, quando já estava no meio da ribeira, com a cesta do almoço á cabeça, desequilibrei-me. Cai na ribeira e a cesta, junto com almoço começou a boiar, indo ficar encalhada nuns ramos de salgueiro numa parte mais funda.

Ainda tentei salvar o almoço, mas o medo de me afogar era tal, que resolvi, voltar para casa e contar o sucedido a minha mãe. Pelo caminho tentei inventar uma história, de que não tive culpa do acidente. Mas com a consciência pesada, tive medo do castigo e escondi-me no inicio da aldeia num galinheiro.

Meu avô como o almoço não chegava, foi até casa saber, o que tinha acontecido.
Entra em casa vê minha mãe tranquila nos seus afazeres. Quando ela, vê meu avo entrar espavorido, logo ali percebeu, que algo estava errado.

- Então o meu almoço? Pergunta á minha mãe!
- Mandei a Maria levar-lho á mais de 2 horas.
- Como assim? Ela não apareceu!

Minha mãe, desata num desatino, sem saber o que teria acontecido á sua menina…
Meu avô por seu lado, também ficou aflito.
- Alguma coisa, aconteceu á miúda. Ela nunca me faltou com o almoço.
 Estava convencido, que tu te tinhas esquecido de mim.
Sendo assim o assunto é outro. Temos que ir procurar a miúda.
Saíram os dois de casa, procurando ás vizinhas, que moravam perto do caminho, se me haviam visto passar.

Algumas delas afirmaram, terem-me visto passar com a cesta á cabeça.
As horas iam passando, eu não aparecia. Logo meu avô, pensou que eu tivesse caído á ribeira, e me tivesse afogado.

Juntaram-se varias pessoas e foram procurar na ribeira.
Minha mãe, assim que viu, a cesta encalhada nos ramos do salgueiro, logo ali assumiu que eu tinha morrido afogada. A corrente deveria ter-me levado!!. Os homens, os únicos que sabiam nadar, lá foram procurando, em tudo que era mais profundo, mas nem vestígios da Maria.

A noite começou a chegar e deram as buscas como terminadas por aquele dia. Toda a gente chorava pela minha morte. De volta á aldeia cada um foi para sua casa. Minha mãe e o resto da família inconsolável, não podiam acreditar em tal tragédia.

Eu, no galinheiro, onde me  escondi, chorei muito, mas depois veio o sono e dormi no galinheiro, em cima de um monte de palha.

Quando as galinhas se dirigiam para o galinheiro, davam por mim, e alvoroçadas fugiam para fora, logo uma vizinha chamou outra, para ver o que se passava no galinheiro. Não era normal o comportamento das galinhas. Entravam e voltavam a sair. Devia haver alguma raposa lá dentro.

Pegaram nuns grandes paus e começaram, a remexer de fora o galinheiro. Quando um dos paus me atingiu acordei: Pedi para não me baterem. Quando as duas viram, que era eu que estava lá entro e que tinham andado toda a tarde á minha procura, ficaram furiosas.

- Saí cá para fora, sua malandra!
- O que fazes dentro do galinheiro?
- Fiquei-me a dormir e não queria ir para casa, porque deixei cair o almoço do meu avô na ribeira.
- Pois, arranjaste uma bela encrenca, toda a gente a pensar que tinhas morrido..
- Vou chamar o teu pai.
- Não por favor deixe-me dormir aqui. O meu pai vai dar-me uma tareia.
- Seja como for, não podes ficar aqui.

Depois de avisada a minha família, vem o meu pai e o meu avô buscar-me.
Meu pai agarrou-me na mão e só disse: - em casa vamos ter uma conversa…
Cheguei a casa envergonhada e suja de caca de galinha.
Meu pai preparava-se para me dar uma tareia, de cinto.
Meu avô apesar de austero erra um homem muito recto.

- Conta lá afinal Maria, o que se passou, toda a gente da aldeia, foi incomodada com esta brincadeira. Explica-te! O que aconteceu?

Lá contei toda a verdade. Que me escondi, com medo de levar uma tareia. Mas que depois adormeci. Meu avo ficou comovido e compreendeu o que se tinha passado dentro da minha pequena cabeça. – És uma tonta. Bastava teres ido chamar-me e tinha-se evitado toda esta confusão… ninguém bate em ninguém! e olhou para o meu pai que já tinha o cinto na mão..

O teu castigo é ires para a cama sem comeres. Só espero que isto não se repita. Ouviste minha menina!

Amanha eu tu temos muito que conversar, diz-me meu avô!
Assim foi. Teve comigo uma conversa tão inteligente que ainda hoje me serve de lição.
Por Joaquina
09/07/2011

SABER ACEITAR QUANDO O AMOR ACABA


É preciso saber, quando uma etapa chega ao final.
De nada vale, insistirmos em permanecer nela.
Quando o amor acabou ele já não nos é necessário.
Podemos perder alegria e o sentido da vida, naquele momento, sim!
Mas trancar a porta a novas oportunidades, não é solução, porque precisamos vivenciar, nova forma de amar.

Temos que fechar ciclos. Fechar portas, terminar capítulos.
Não importa os nomes que lhes damos.

Temos que deixar no passado, momentos que já se acabaram.
Na vida as coisas passam, temos que deixa-las ir embora.
Deixar ir embora, é soltar. Desprender-se.
Umas vezes ganhamos, outras vezes perdemos.
O importante, é começar novo capítulo, e terminar o antigo.
Acredite! O que passou, jamais voltará.
Lembre-se sempre, que podemos viver sem aquilo, que não temos.
Nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Estamos cá para recomeçar novos ciclos.
Não por orgulho, nem por incapacidade, nem por soberba.
Simplesmente, porque aquilo, já não nos faz falta, na nossa vida.
Então, quando entender, que a vida é mesmo assim, vai poder libertar-se do velho e Deixar entrar, nova oportunidade, de crescimento pessoal.
Feche a porta. Mude o disco. Limpe a casa. Sacuda a poeira."
Vá para a frente do espelho, olhe no fundo da sua alma, verá que um novo dia começou para si…
E o amor voltará, com nova roupagem, aspecto diferente, mas pode ser esse, aquele que veio procurar ao planeta.
Boa sorte, na sua busca, pela felicidade.
Por Joaquina
25/04/2011




Monday, July 25, 2011

EXEMPLOS DE VIDA - CASO VERIDICO


Os tempos mudaram, isso, todos o sabemos. Hoje, os pais têm uma grande dor de cabeça quando começam as feria de escola dos filhos. Eu como habitante de uma grande cidade, já senti isso na pele. Isto traz-me a memoria meus tempos de escola e do tempo em que tudo era mais fácil para todos.

Quando chegavam as férias da escola os pais sempre tinham tarefas para os filhos na horta ensinando-lhes a sobrevivência.
A minha memoria leva-me para umas ferias de natal onde o tempo dos miúdos era aproveitado para ajudar no sustento da família.

Era costume, nessas ferias os pais mandarem os filhos ao rebusco”Era aproveitar a azeitona que ficava para traz, depois de os donos dos olivais, terem apanhado sua azeitona” os miúdos em seguida iam com uma sacola, uma bucha no bolso e apanhavam azeitona que ficava entre os ramos, a que estava esmagada no chão. Tudo era aproveitado e num dia inteiro com um pouco de trabalho e vontade, ao fim do dia levava-se para casa, cerca de 2 kilos de azeitona. Meu pai metia essa azeitona dentro de uma saca e no fim das ferias pesava aquela azeitona que podia chegar a meia saca de azeitona boa(uns 30 kilos, depois juntava-a á outra nossa para fazer azeite para o ano.
Certo dia andava eu mais outra colega de escola, na nossa tarefa , até que se junta a nós um outro grupo de quatro miúdos. A partir daí, esquecemos o trabalho, acendemos uma fogueira, comemos a nossa bucha e logo esquecemos tudo entrando numa brincadeira de miúdos. Quando demos pelo tempo ele tinha voado e as sacolas estavam quase vazias, eu aflita disse logo, eu não posso aparecer em casa com isto que o meu pai, vai bater-me. Comecei a chorar com medo de ir para casa logo, um rapaz se lembrou que ali perto havia um olival com azeitona por apanhar. Fomos todos a correr e enchemos as sacolas , mas como a mentira tem a perna curta o facto de enher demais a sacola deu nas vistas.

Cheguei a casa feliz. Logo meu pai reparou na sacola. Era sempre eu que a despejava na saca, naquele dia meu pai reparou que vinha mais cheia do que dos outros dias.

- Maria, dá-me a sacola! Logo que olhou para a azeitona soube logo que não era de rebusco.

- onde apanhas-te esta azeitona? – foi no rebusco. – não me mintas que eu sei reconhecer que esta azeitona não é do rebusco. Se me disseres a verdade não te bato. Se insistires em mentir vamos ter aqui uma grande chatice. Meus irmãos todos me diziam em voz baixa, conta a verdade Maria, senão levas uma tareia de cinto. Perante tal apelo e medo da tareia, lá contei a verdade ao meu pai. Muito bem, agora despeja esta azeitona, numa cesta quero ver se ela foi toda roubada ou se tens alguma que é fruto do teu trabalho.

Obrigou-me a separar azeitona, depois mandou-me por a restante que não nos pertencia na sacola. Agora vais comigo a casa do compadre levar a que lhe pertence. Pelo caminho deu-me todos os recados sobre o que era ser um ladrão, que na minha imaginação eu não teria feito nada de mal, uma vez que todos fizemos o mesmo.

- Não quero saber do que fazem os filhos dos outros! Em minha casa não há ladoes e tu estas farta de saber que não se deve tirar nada aos outros. Eu argumentava que não voltava a fazer, e se o tinha feito , tinha sido por medo. – Estás enganada Maria eu podia ficar um pouco zangado por trazeres pouca azeitona, mas sabia que era um trabalho honesto, e não passava disso. Agora vais ter que devolve-la e pedir desculpa.

Chegamos, batemos á porta. Lá vem o compadre do meu admirado por nos ver aos dois.

- boa noite compadre diz meu pai. – entrem! O que o traz a esta hora aqui. Minha vilha vem devolver uma azeitona que apanhou no seu olival e vem pedir desculpa. – deixe-se disso compadre, ela é uma muida. – Diz lá o que vieste fazer Maria. – Quero pedir desculpa pelo que fiz e deixar a azeitona. – se assim o queres está bem.. foi despejar azeitona numa saca e devolveu-me a sacola. Quando ia a sair disse-me não te zangues com tem pai, a isso chama-se educar um filho, se todos assim fizessem não haveria ladrões..

Regressei a casa envergonhada mas consciente que meu acto não foi correcto. Nunca mais apanhei uma única azeitona que não pudesse levar para casa, foi sem dúvida uma grande liça, a tal ponto que passados muitos anos já eu tinha minha família formada em Lisboa, tinha minha filha uns 5 anos, passados 20 anos desse episódio dei comigo a ensinar o mesmo á minha filha o sentido foi igual o contexto é que foi diferente.

Estava eu numa mercearia a fazer compras, minha filha chega-se a uma bacia de azeitonas curadas que ali se encontravam para venda, ela com sua mão pequena, tirou umas 5 azeitonas, fechou a mão escondeu-a atráz das costas, não vi ela tirar as azeitonas mas sabia que tinha na mão escondido algo que tirara sem licença. Pedi, filha mostra o que tens na tua mão, não tenho nada! Se não me mostras tenho que ser eu abrirte a mão, continuaou a dizer não ´+e nada. Como não mostrava a mão fui neu que a abri. Quando vi as azeitonas na sua mão veio-me logo á memória o meu episódio.

- Agora põe azeitona no sitio e pede desculpa, começou a chorar. Logo a dona da mercearia começou a ficar indignada comigo. – deixe lá isso, não tem importância. Ela é apenas uma criança!

Baixei-me ao nível da minha filha , olheia nos olhos e dise-lhe: - minha filha nunca se mexe naquilo que não nos pertence, tu gostavas que uma menina fosse lá casa e te levasse uma das tuas bonebcas? – não mãe! – a mãe não está zangada contigo, só quero que me peças as coisas, se a mãe tiver dinheiro compra-te se não tiver não compra.- Entendeste o que bte disse. – sim mãe. Ainda queres azeitonas. Quero, se podes comprar. Aí pedi 250 gramas de azeitonas. – toma são todas para ti. Promete que nunca mais mexes em nada que não te pertença. Prometo mãe e obrigada pelas azeitonas. Assistia atónita a dona da mercearia aquela conversa, condenado-me pela minha atitude., disse apenas, não se meta quem educa minha filha sou eu!

Assim minha filha se habituou a pedir sempre que queria qualquer coisa ao ponto de todos os dias pedir coisas.

Todos os dias quando ia para o infantário, passávamos frente a uma pastelaria, um dia quando vinha do infantário, disse que não tinha lanchado e tinha fome. Entrei na pastelaria e comprei-lhe um bolo, a partir desse dia, queria bolo todos os dias. Só lhe disse enquanto pedires bolos eu não te dou. Mas eu tenho muita fome! Então quando chegarmos a casa comes sopa.

Chegou ao ponto de passar uns dias ou uma semana sem pedir, vendo que eu não lhe dava um bolo, puxou pela minha mão frente á montra e diz de uma maneira muito sorrateita. Mãe eu já muito tempo que não peço bolos. Meu coração derreteu-se.

Já percebeste se não pedires e a mãe puder comprar, compra-te o bolo. Entramos e disse-lhe, podes escolher o bolo que quizeres. Resposta daquela criança! “podes pagar mãe” desta vez posso pagar. E podemos também levar um para o pai? A senhora que estava ao balcão achou tanta piada, aquela observação, que acabou por lhe dizer escolhe um de cada pondo-lhe uma caixa com bolos, que quem paga hoje sou eu. Perante tal atitude não me pareceu correcto. Contei-lhe que a estava a educar para não pedir bolos todos os dias. Ela entendeu. Sempre que entrava na pastelaria, sempre dizia, a tua mãe é que manda!

Foi a melhor lição de vida, que dei á minha filha..

A semente que plantei nela deu seus frutos. Hoje Vegetariana. Não pode ver um animal abandonado, deixa de comer para comprar comida para animais, abandonados. É ecológica, honesta, mas rica de coração.. Para mim uma grande alma ao serviço no Planeta.

POR: JOAQUINA

20/07/2011

MINHA MAIOR LIÇÃO DE VIDA -VEIO DO MEU AVÔ


Meu avô sempre me protegeu. De sete netos eu sempre soube que era a sua preferida. De tanto de mim gostar exigiu sempre mais de mim do que dos outros.

No seu entender estava a preparar-me para a vida. Eu sempre fui uma criança calada. Quando as coisas não me corriam bem eu chorava. Horas seguidas. Meu avô sempre me vinha consolar. No entanto, ele era um homem que tinha sido criado sem afectos. E a vida, e a necessidade, fez dele um homem austero, mas justo.

Sempre trabalhador e bom educador, acabou por substituir o meu pai, na educação que me era devida. Sendo meu pai um homem ausente, devido aos negócios, era meu avô o homem da casa. E todos eram obrigados a respeitá-lo, e a obedecer-lhe. Mesmo a temê-lo.

Sempre trabalhou a terra. Dela tirou o sustento para toda a família.

Com 74 anos era um homem gasto, pelo trabalho e pelos desgostos com que a vida o tinha já presenteado.

Tinha um pequeno defeito. Gostava da sua pinga! Fazia sempre questão, no Inverno, de beber uns copitos. Talvez para lhe aquecer o corpo solitário.

Certa noite de Janeiro estava um frio de rachar. Queria beber o seu copito e não tinha vinho em casa. Resolveu ir à adega buscá-lo. Meu pai estava ausente e minha tentou impedi-lo. Mas ninguém era capaz de deter a vontade de um homem de 1,90 de altura e com força capaz de derrubar quem se atrevesse a barrar-lhe o caminho.

Mal acabou de sair de casa e ao atravessar umas escadas de pedra, que tinham gelo, (começara já, a geada), caiu de um patamar de 3 metros de altura e partiu uma clavícula, que o levou á cama por dois anos. Como era do lado direito, tirou-lhe toda a mobilidade ao ponto de, a partir daquela altura, depender de outros para tudo.

Até ali sempre se sentiu forte, capaz. Custou-lhe muito a engolir o seu orgulho e ter de aceitar a ajuda da família, para tudo. Penso que esse seu orgulho o levou a desinteressar-se pela vida.

Éramos quatro raparigas em casa. Em nós foi delegada a função de lhe dar as refeições. Cada dia era uma diferente que tinha essa obrigação.



Passados seis meses, minhas irmãs, também elas miúdas, davam-lhe de comer muito á pressa. Para irem brincar. Acabaram por lhe fazer uma ferida, no céu-da-boca, com a colher. Um dia ele chamou meu pai.

- Senta-te filho. Precisamos de ter uma conversa muito séria. Meu pai ficou assustado, pensando que meu avô se estaria a despedir da vida.

Ouve bem filho. Quero fazer-te um pedido. Sei que não vou ser justo para uma pessoa. Cabe-te a ti falares com a tua filha Maria, sobre o assunto.

Ao longo destes seis meses tenho estudado o comportamento das tuas quatro filhas. A única que tem coração é a Maria. Tenho uma ferida na boca, provocada pela pressa das outras, que estão sempre com sentido na brincadeira. Não as posso censurar, são miúdas. Só a Maria, a partir do momento que lhe disse que as irmãs me magoavam, ao dar-me de comer, teve compaixão de mim. E dá-me de comer sem pressa e com carinho. Gostava que tivesses uma conversa com ela. E que a partir de agora seja só ela a dar-me de come. Caso contrário, deixo de me alimentar. Meu pai ficou assustado quando viu a ferida no céu-da-boca. Comprou injecções de penicilina e tratou-lhe da ferida. Quando, á noite, nos encontrávamos todos reunidos, fez um grande sermão sobre o assunto.

- Maria. Ficas a partir de hoje incumbida de dares de comer ao teu avô. As outras irmãs deram pulos de contente. Enquanto eu estava com ele, elas jogavam á macaca, saltavam a corda e eu chorava, enquanto dava de comer ao meu avô.

Certo dia, meu avô teve pena de mim e disse: - Maria. Eu não vou viver muito mais. Sinto que nesta casa já não faço falta a ninguém. Mas quero-te dizer, minha filha. Tu és única. Nunca te arrependas de fazer o bem. Deus te compensará por tudo. Sei que é difícil, para ti, seres só tu a dares-me de comer. Acredita, Maria. Sei que, por tudo que estás a fazer por mim, que estás triste e magoada. Mas nem por isso deixas de ser meiga, quando me pões a colher na boca. Deus nunca se esquece dos seus filhos. Deus porá no teu caminho tudo aquilo que tu mereceres. E tu mereces muito. E eu te admiro muito. Enquanto estiveres comigo, aproveita para aprenderes as minhas lições de vida. Com as tuas irmãs eu já não perco mais tempo.

O tempo passou. Tivemos muitas conversas. Sobre tudo. Deixei de chorar e aqueles momentos que passei a seu lado, tornaram-se mágicos. Quando me contava histórias, esquecidas no tempo. Contadas oralmente, de geração em geração.

Um dia, quando lhe ia dar o almoço, pegou na minha mão e disse: - hoje não me apetece comer. Em vez disso, diz-me. O que pensas de mim?

Fui um avô muito duro contigo? – Não, meu avô. Agora estou é preocupada consigo por não querer comer.

Tens um coração muito puro, minha neta. E nunca te esqueças: “faz o bem sem reparar a quem”. Um dia serás sempre recompensada. Esteja eu onde estiver, estarei sempre contigo.

A partir desse dia nunca mais comeu. E deixou-se ir. Aos poucos. Ao fim de um mês, já nada restava daquele homem forte e temido.

Era um domingo e ele estava pronto para morrer. Nesse dia estava lá um padre. À aldeia se deslocava, uma vez por semana, para rezar missa.

Meu pai foi ter com o padre e disse que o meu avô estava a morrer. E se ele lhe poderia dar os últimos sacramentos. O padre disse que sim. Mas só se meu avô o desejasse. Teria que ter o seu consentimento. Meu pai falou com seu pai. E ele não quis o padre. A última coisa que queria escutar eram os conselhos de um padre. Este esperou 10 horas que meu avo cedesse e o aceitasse receber. Assim e por volta das 20 horas, meu avô chamou meu pai e perguntou se o padre ainda estava na aldeia. Sim, disse o meu pai.

- Então vai chamá-lo. Chegou a hora do ajuste de contas. Meu pai julgou que ele já estava a delirar.

O padre entrou no quarto, sentou-se numa cadeira e meu avô, disse:

- Ainda se lembra, que aqui há uns 10 anos atrás, nós os dois tivemos um confronto numa terra minha? – Não me recordo. Não, repetiu o padre, desconcertado! Pois bem. Você, que é um confessor, chegou o dia de me pedir perdão. Porque, a partir desse episódio, você roubou a minha fé na igreja. Era a única coisa que tinha para além do trabalho. Levante-se dessa cadeira e peça-me perdão. Se realmente se considera um cristão. O padre acabou por se lembrar do episódio há muito esquecido. Levantou-se, pediu perdão e agarrou-lhe na mão. Meu avô, apenas disse:

- Pode retirar-se. Já posso morrer em paz. Agora vá á sua vida. Já o retive muito tempo. O padre saiu com as lágrimas nos olhos. Ninguém entendeu o que se tinha passado. Só eu soube. Porque me tinha escondido debaixo da cama do meu avô e ou vi e entendi tudo o que ali se passou. Naquele tempo, não percebi o significado de toda a conversa. Mas hoje sei. E sei muito bem que o meu avô era um anjo, em trabalho no planeta.



Para melhor compreensão da história, vou explicar o que aconteceu entre o padre e o meu avô.



Meu avô tinha uma propriedade junto a uma ribeira. Quando a ribeira aumentava, no Inverno, ele permitia, para encurtar o caminho ás pessoas, que elas passassem na sua propriedade, a pé. Estava meu avô um dia por lá, a trabalhar e eis que vê o padre, passar a cavalo, na sua propriedade, permitindo que o animal lhe comesse as videiras. Barra-lhe o caminho com um sacho na mão e diz-lhe: - Se quer passar por aqui, desce do cavalo, segura-lhe a rédea curta, e não o deixa o comer as videiras. O padre respondeu:

- Não desço do meu cavalo e você não é homem para me impedir! Respondeu o padre com ar dominador.

- Então temos aqui um problema. Se não desce, recua e volta para trás. Nesta propriedade não passa. Ela é minha e não da sua igreja.

Como o padre não desceu, nem recuou, meu avô levanta o sacho e disse-lhe: -

Hoje vai fazer de mim um assassino. Se dá mais um passo, em cima desse cavalo. Quando o Padre percebeu que ele falava a sério, desceu do cavalo e segui a pé, com meu avo a seu lado. Quando chegou ao fim da propriedade, meu avô só lhe disse: - a partir de hoje arranjou um inimigo. Nunca mais estarei no mesmo lugar que você esteja. E nunca mais se atreva a passar por esta propriedade. Nem a cavalo. Nem a pé.

Passaram-se uns 15 anos. Meu avô nunca mais foi á missa. Também nunca nos proibiu. Sempre dizia que o problema era entre ele e o padre.



Com a morte do meu avô, aos meus 14 anos, algo em mim desmoronou. Ficou sempre no meu inconsciente, uma orientação para minha vida.

Nunca mais esqueci o provérbio “faz bem sem reparar a quem”. Verdade seja dita. Hoje sinto que fui compensada, mesmo tendo em conta tudo o que já passei. Sempre achei que meu avô tem sempre estado por perto. Para me dar a mão. Como quando era pequena.

POR: JOAQUINA
06/07/2011

CONTO EXEMPLO DE VIDA - CASO VERÍDICO



Os tempos mudaram. Todos sabemos isso. Hoje, os pais têm uma grande dor de cabeça quando começam as férias de escola dos filhos. Eu, como habitante de uma grande cidade, já senti isso na pele. Vêm-me à memória os meus tempos de escola e o tempo em que tudo era mais fácil, para todos.

Quando chegavam as férias escolares os pais sempre tinham tarefas para os filhos. Era na horta ensinando-lhes a sobrevivência.



A minha memória leva-me para umas férias de natal onde o tempo dos miúdos era aproveitado para ajudar ao sustento da família.

Era costume, nessas pausas escolares, os pais mandarem os filhos ao rebusco.”Era aproveitar a azeitona que ficava para traz, depois de os donos dos olivais, terem feito a sua apanha.” Os miúdos, de seguida, iam com uma sacola e uma bucha no bolso. E apanhavam a azeitona que ficava entre os ramose a que estava esmagada no chão. Tudo era aproveitado e num dia inteiro, com um pouco de trabalho e vontade, levavam-se para casa, cerca de 2 quilos de azeitona. Meu pai metia essa azeitona dentro de uma saca. No fim das ferias aquela azeitona poderia encher meia saca de azeitona boa (uns 30 quilos). Depois juntava-a á outra nossa azeitona, para fazer azeite para o ano.



Certo dia, andava eu e outra colega de escola na nossa tarefa. Até que se junta a nós um outro grupo de quatro miúdos. A partir daí, esquecemos o trabalho, acendemos uma fogueira, comemos a nossa bucha e logo esquecemos tudo, entrando numa brincadeira de miúdos. Quando demos pelo tempo, ele tinha voado e as sacolas estavam quase vazias. Eu, aflita, disse logo que não poderia aparecer em casa com aquilo. Que o meu pai me iria bater. Comecei a chorar com medo de ir para casa. Logo ali, um rapaz se lembrou que por perto havia um olival com azeitona por apanhar. Fomos todos a correr e enchemos as sacolas. Mas como a mentira tem a perna curta, o facto de encher demais a sacola, deu nas vistas.

Cheguei a casa feliz. Logo meu pai reparou na sacola. Era sempre eu que a despejava a saca. Naquele dia, meu pai reparou que vinha mais cheia do que em outros dias.

- Maria, dá-me a sacola! Logo que olhou para a azeitona soube logo que não era de rebusco.

- onde apanhaste esta azeitona? – Foi no rebusco, retorqui eu. – Não me mintas que eu sei reconhecer que esta azeitona não é do rebusco. Se me disseres a verdade não te bato. Se insistires em mentir vamos ter aqui uma grande chatice. Meus irmãos todos me diziam em voz baixa: - conta a verdade Maria, senão levas uma tareia de cinto. Perante tal apelo e medo da sova, lá contei a verdade ao meu pai. -Muito bem. Agora despeja esta azeitona numa cesta. Quero ver se ela foi toda roubada ou se tens alguma que é fruto do teu trabalho.

Obrigou-me a separar a azeitona. Depois mandou-me pôr a restante, que não nos pertencia, na sacola. -Agora vais comigo a casa do compadre levar a que lhe pertence. Pelo caminho deu-me todos os recados sobre o que era ser um ladrão. Que na minha imaginação eu não teria feito nada de mal, uma vez que todos fizemos o mesmo.

- Não quero saber do que fazem os filhos dos outros! Em minha casa não há ladrões. E tu estás farta de saber que não se deve tirar nada aos outros. Eu argumentava que não voltava a fazer, e que se o tinha feito, o fiz por medo. – Estás enganada Maria. Eu podia ficar um pouco zangado por trazeres pouca azeitona. Mas sabia que era um trabalho honesto, e não passava disso. Agora vais ter que devolve-la e pedir desculpa.

Chegamos e batemos á porta. Lá vem o compadre do meu pai, admirado por nos ver, aos dois.

- Boa noite compadre, diz meu pai. – Entrem! O que o traz por aqui a esta hora? Minha filha vem devolver uma azeitona que apanhou no seu olival. E vem pedir desculpa. – Deixe-se disso compadre. Ela é uma miúda. – Diz lá o que vieste fazer, Maria. – Quero pedir desculpa pelo que fiz e venho devolver a sua azeitona. – Se assim o queres, está bem, respondeu o compadre. Foi despejar a azeitona numa saca e devolveu-me a sacola. Quando ia a sair, disse-me: - não te zangues com tem pai. A isso chama-se educar um filho. Se todos assim fizessem, não haveria ladrões.

Regressei a casa, envergonhada, mas consciente que meu acto não foi correcto. Nunca mais apanhei uma única azeitona que não pudesse levar para casa. Foi sem dúvida uma grande lição. A tal ponto que, passados muitos anos, e já com minha família formada em Lisboa, algo parecido veio a acontecer. Teria minha filha uns 5 anos. Passados 20 anos daquele episódio, dei comigo a ensinar o mesmo á minha filha. O sentido foi igual. O contexto é que foi diferente.



Estávamos numa mercearia a fazer compras e minha filha chega-se a uma bacia de azeitonas curadas, que ali se encontravam para venda. Ela, com sua mão pequenina, tirou umas 5 azeitonas e fechou a mão, escondendo-a por traz das costas. Não vi ela tirar as azeitonas. Mas sabia que tinha na mão escondido algo que tirara sem licença. E pedi: - Filha, mostra o que tens na tua mão.  -Não tenho nada, respondeu-me.  -Se não me mostras, terei que ser eu a abrir-te a mão. E continuou a afirmar não ter nada. Como não mostrava a mão tive que a abri. Quando vi as azeitonas na sua mão, veio-me logo á memória o meu episódio de infância.

- Agora põe as azeitonas no sítio e pede desculpa. Começou a chorar. Logo a dona da mercearia começou a ficar espantada comigo. – Deixe lá isso, não tem importância. Ela é apenas uma criança!

Baixei-me ao nível da minha filha , olhei-a nos olhos e disse-lhe: - minha filha. Nunca se mexe naquilo que não nos pertence. Tu gostavas que uma menina fosse lá casa e te levasse uma das tuas bonecas? – Não, mãe – respondeu ela. -A mãe não está zangada contigo. Só quero que me peças as coisas. Se a mãe tiver dinheiro compra-te. Se não tiver, não compra. Entendeste o que te disse? – sim mãe, respondeu, já aliviada. -Ainda queres azeitonas? – Quero. Se podes comprar. Pedi então 250 gramas de azeitonas. – Toma, são todas para ti. Promete que nunca mais mexes em nada que não te pertença. -Prometo mãe. E obrigada pelas azeitonas. Assistia, atónita, a dona da mercearia áquela conversa, condenando-me pela minha atitude. Disse-lhe apenas que era a minha forma de educar minha filha.



E assim ela se habituou a pedir sempre o que queria. Qualquer coisa. Ao ponto de todos os dias pedir coisas.

Diariamente, quando ia para o infantário, passávamos frente a uma pastelaria. Um dia, quando regressava, disse que não tinha lanchado e que tinha fome. Entrei na pastelaria e comprei-lhe um bolo. A partir desse dia, queria um bolo todos os dias. E disse-lhe: - enquanto pedires bolos eu não tos dou. -Mas eu tenho muita fome! Disse ela, apelando à minha sensibilidade. Então, quando chegarmos a casa, comes sopa.

E passaram uns dias, talvez uma semana, sem pedir nada. Vendo que eu não lhe dava um bolo, puxou pela minha mão e frente á montra diz, de uma forma muito sorrateira: - Mãe, eu já há muito tempo que não peço bolos.

 Meu coração derreteu-se.

-Já percebeste. Se não pedires e a mãe puder comprar, compra-te o bolo. Entramos e disse-lhe: - podes escolher o bolo que quiseres. Resposta daquela criança:  -podes pagar, mãe? -Desta vez posso pagar. E podemos também levar um para o pai? A senhora que estava ao balcão achou tanta piada àquela observação, que acabou por lhe dizer: - escolhe um de cada. E deu-lhe uma caixa com bolos. -Quem paga hoje, sou eu. Perante tal atitude, fiquei um pouco desconcertada. Contei-lhe que a estava a educar para não pedir bolos todos os dias. Ela entendeu. Sempre que entrava na pastelaria dizia: - A tua mãe é que manda!

Foi a melhor lição de vida que dei á minha filha.

A semente que plantei nela deu seus frutos. Hoje, vegetariana, não pode ver um animal abandonado. Já deixou de comer para comprar comida para animais. É ecológica, honesta, e rica de coração. Para mim, uma grande alma ao serviço do Planeta.

Por: Joaquina
23/07/2011

CONTO DA CAPOEIRA- CASA VERIDICO



Quando eu era uma menina, minha mãe mandou-me levar o almoço ao meu avo. Estava na hora do intervalo da escola e ele estava na horta, a trabalhar.

Tinha que passar por uma ribeira. Para a atravessar, tinha que saltar umas pedras, lá colocadas por pessoas, adultas. Minhas pequenas pernas tremiam só de pensar em atravessar aquela ribeira.

Mas como criança que era, em vez de continuar meu caminho, tirei a cesta da cabeça e fiquei a brincar nas margens da ribeira. Quando dei conta que meu avo deveria estar à espero do almoço, acordei daquele sonho inocente. Não tinha tido a noção do tempo.



Com a coragem possível, e a pressa, comecei a pular de pedra em pedra. Quando já estava no meio da ribeira com a cesta do almoço á cabeça, desequilibrei-me. CaÍ na ribeira e a cesta, com almoço, começou a boiar, indo encalhar nuns ramos de salgueiro, numa parte mais funda.

Ainda tentei salvar o almoço. Mas o medo de me afogar era tal, que resolvi voltar para casa e contar o sucedido à minha mãe. Pelo caminho tentei inventar uma história. E que não tinha culpa do acidente. Mas com a consciência pesada, tive medo do castigo e escondi-me, no inicio da aldeia, num galinheiro.

Meu avô, vendo que o almoço não chegava, foi até casa saber o que tinha acontecido.

Entra em casa vê minha mãe tranquila nos seus afazeres. Quando vê meu avo entrar, espavorido, logo ali percebeu, que algo estava errado.

- Então o meu almoço? Pergunta à minha mãe!

- Mandei a Maria levar-lho á mais de 2 horas.

- Como assim? Ela não apareceu!

Minha mãe que era mãe galinha desata num desatino, sem saber o que teria acontecido á sua menina…

Meu avo por seu lado também ficou aflito.

-Alguma coisa aconteceu á miúda. Ela nunca me faltou com o almoço. Estava convencido que tu te tinhas esquecido de mim. Sendo assim, o assunto é outro. Temos que ir procurar a miúda.

Saíram os dois de casa e perguntaram às vizinhas, que moravam perto do caminho, se me haviam visto passar. Algumas delas afirmaram terem-me visto com a cesta á cabeça. As horas iam passando eu não aparecia. Logo meu avo pensou que eu tivesse caído á ribeira e me tivesse afogado. Juntaram-se varias pessoas e foram procurar na ribeira. Minha mãe assim que viu a cesta encalhada no salgueiro, logo ali assumiu que eu tinha morrido afogada e que a corrente me teria levado. Os homens, os únicos que sabiam nadar, lá foram procurando em tudo que era mais profundo. Mas nem vestígios da Maria.

Depois de muita procura, deram as buscas como terminadas. Naquele dia. Toda a gente chorava a minha morte. De volta á aldeia cada um foi para sua casa. Minha mãe e o resto da família, inconsolável, não podiam acreditar em tão má sorte!

Eu, no galinheiro escondida, chorava muito. Depois veio o sono e dormi. No galinheiro, em cima de um monte de palha.

Ao anoitecer, como sempre acontecia, as galinhas dirigiam-se para o galinheiro. Deram por mim e alvoroçadas, fugiram para a rua. Uma vizinha ao ver aquele alvoroço da bicharada, chamou outra, para ver o que se passava no galinheiro. As galinhas entravam e voltavam a sair e isso não era normal. Devia haver alguma raposa lá dentro.

Pegaram numas grandes paus e começaram a remexer, a partir de fora, o galinheiro. Usavam o buraco onde entravam as galinhas, deixando a porta aberta para que a raposa fugisse. Quando um dos paus me atingiu, acordei. Pedi para não me baterem. Quando as duas viram que era eu, elas tinham andado toda a tarde á minha procura, ficaram furiosas.

- Saí cá para fora sua malandra.

- O que fazes dentro do galinheiro?

- Fiquei-me a dormir e não queria ir para casa porque deixei cair o almoço do meu avo na ribeira.

- Pois é. Mas agora arranjas-te uma ainda pior. Toda a gente a pensar que tinhas morrido..

- Vou chamar o teu pai..

- Não, por favor. Deixe-me dormir aqui. O meu pai vai dar-me uma tareia.

- Seja como for, não podes ficar aqui.

Depois de avisada a minha família, vêm o meu pai e o meu avo buscar-me.

Meu pai agarrou-me pela mão e só disse:_ em casa vamos ter uma conversa.

Cheguei a casa envergonhada e suja de caca de galinha.

Meu pai preparava-se para me dar uma tareia com um cinto. Meu avô, apesar de austero, era um homem muito recto.

- Conta lá afinal Maria o que se passou. Toda a gente da aldeia foi incomodada com esta brincadeira. Explica o que te aconteceu.

Lá contei toda a verdade. Que me escondi com medo de levar uma tareia. Mas que depois, adormeci. Meu avô ficou comovido e compreendeu o que se tinha passado dentro da minha pequena cabeça. – és uma tonta, bastava teres ido chamar-me e tinha evitado toda esta confusão.  Ninguém bate em ninguém, olhando para o meu pai que já tinha o cinto na mão.

O teu castigo é ires para a cama sem comeres. Só espero que isto não se repita. Ouviste bem, minha menina?

Por: Joaquina
07/07/2011

SABER ACEITAR QUANDO O AMOR ACABA


É preciso saber, quando uma etapa chega ao final.
De nada vale, insistirmos em permanecer nela.
Quando o amor acabou ele já não nos é necessário.
Podemos perder alegria e o sentido da vida, naquele momento, sim!
Mas trancar a porta a novas oportunidades, não é solução, porque precisamos vivenciar, nova forma de amar.

Temos que fechar ciclos. Fechar portas, terminar capítulos.
Não importa os nomes que lhes damos.

Temos que deixar no passado, momentos que já se acabaram.
Na vida as coisas passam, temos que deixa-las ir embora.
Deixar ir embora, é soltar. Desprender-se.
Umas vezes ganhamos, outras vezes perdemos.
O importante, é começar novo capítulo, e terminar o antigo.
Acredite! O que passou, jamais voltará.
Lembre-se sempre, que podemos viver sem aquilo, que não temos.
Nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Estamos cá para recomeçar novos ciclos.
Não por orgulho, nem por incapacidade, nem por soberba.
Simplesmente, porque aquilo, já não nos faz falta, na nossa vida.
Então, quando entender, que a vida é mesmo assim, vai poder libertar-se do velho e deixar entrar, nova oportunidade, de crescimento pessoal.
Feche a porta. Mude o disco. Limpe a casa. Sacuda a poeira."
Vá para a frente do espelho, olhe no fundo da sua alma, verá que um novo dia começou para si…

E o amor voltará, com nova roupagem, aspecto diferente, mas pode ser esse, aquele que veio procurar ao planeta.

Boa sorte, na sua busca, pela felicidade.

Por Joaquina

25/04/2011