Friday, August 26, 2011

NOSSO PRIMEIRO CARRO



16 Fevereiro 2011
Quando nossa filha, tinha sete anos, achamos que estava na hora de começar a ir connosco conhecer novo mundo, e a ausência dela era-nos bastante difícil, eu acabava muita vez a chorar com saudades dela.

Compramos nosso primeiro carro em 2ª mão, um Renault 4L bastante velhote, mas era o que podíamos ter nessa altura.

Jamm, trabalhava muito e não tinha tempo para tirar a carta. Eu como já tinha estado no equador tirei lá a carta de ligeiros mas nunca conduzi. No entanto tinha uma carta internacional, pela qual podia tirar uma nacional. Foi fácil. Não precisei de fazer novo exame e consegui a minha primeira carta portuguesa. Decidimos que seria eu a conduzir a 4L.

Como não tinha prática, mas sim a teoria, achei eu, que conseguia conduzir sem uma aulas extras, e como o dinheiro era pouco, um dia pedi a uma pessoa conhecida para ir comigo a cascais. Era a primeira vez que pegava no carro. Para lá, de tudo correu muito bem. Já de volta a Lisboa um condutor mais experiente do que eu, resolveu parar á minha frente sem fazer pisca. Logo ali dei uma pancada, não muito forte porque eu vinha devagar, mas como quem bate por detrás segundo as regras da condução, paga.

Ainda não tinha seguro do carro e eu já metida em sarilhos.

Tive muito receio de contar ao Jamm, mas tinha que ser, uma vez que seriamos nós a pagar do nosso bolso os faróis partidos do outro carro.

Pagamos tudo o que havia a pagar. Fiquei com tanto medo de voltar a bater que nunca mais peguei no carro numa estrada com trânsito. Durante dois anos o carro este parado no trabalho de jamm, até que ele começou a pegar no carro e aos poucos a conduzir dentro de um recinto. Fez tudo para que eu voltasse a pegar no carro, por ele não ter tempo de tirar a carta. Como o carro era velho aos poucos foi resolvendo os problemas de mecânica e reparou os estragos que eu tinha feito com ele.

Mas como tudo tem o seu porquê, jamm, não gostava de conduzir, em casa dos pais tinham tido um grande acidente e também ficou traumatizado.

Agora éramos dois a não querer pegar no carro. Lá convenci o Jamm, a ser ele a tirar a carta e conduzir ele o carro. Assim aconteceu. Essa minha insistência, junto do medo de conduzir, deu-lhe a ele uma autonomia tão grande, que viria alterar para sempre a vida dos dois…

Esse carrito foi nosso começo, pelos parques de campismo e o gosto da vida ao ar livre, em contacto com a natureza.

Nele levávamos tudo, mais alguma coisa, muita vez estivamos em desacordo os dois. Muita vez me disse: - isto não é uma casa. Isto é um carro e quanto mais o carregares, mais gasolina ele gasta. Tem paciência, nós vamos um mês de férias e não mudar de casa. Fizemos uma lista com as coisas mais necessárias, mas no fim acabamos por concluir que precisávamos de tudo, muitas das coisas eram da filha e para ela não existiam concepções, precisava de tudo, ou então, simplesmente não queria ir de férias. Começaram aí as nossas cedências com nossa única filha.

Aprendeu depressa a pedir tudo o que queria sabendo que o pai não resistiria de satisfazer aquele ser que ele tanto adorava. Quero também aqui esclarecer, tudo o que pedia era coisas próprias da idade e nada de grandes exageros.

Sempre que queria uma coisa dizia: - ou me dás isto ou então uma mana para brincar. Até que um dia na Noruega o país mais longínquo onde tínhamos conseguido chegar com nosso carrito, ela fez uma birra tão grande, porque queria uma barbie que tinha visto numa montra. Nessa altura o escudo valia muito pouco e a boneca comprada na Noruega ficava numa pequena fortuna. O pai bem lhe explicou a diferença de preço e que não podia comprar-lhe a boneca, mesmo assim ela não desistiu. Chorou, dizendo que não tinha com quem brincar. Até que por fim cansado, de tanto a ver chorar e rendido aos argumentos, acabou por lhe comprar uma barbie que com o mesmo preço teria comprado duas iguais. – Muito bem, ganhaste a batalha minha filha, mas estás proibida de pedir seja o que for durante as férias. – Nem sequer, um gelado, contestou. – Nem mesmo um gelado. Ela cumpriu a promessa, brincou com a sua boneca e o resto das férias e não se atreveu a pedir mais nada. Passados muitos anos ainda Jamm, dizia: - nunca me vou esquecer que esta filha me obrigou a comprar uma barbie na Noruega…

A partir daí foi um começo de colecções que não mais acabou lá por casa, o mundo das barbies e suas respectivas roupas e acessórios.

Quando ganhou, a sua primeira barbie tinha ela 5 anos.

Passou para uma segunda fase, de pedidos, que foi até esgotar o tema e ela própria desistir.

Dos 5 anos até aos 8 anos pedia todos os dias que queria uma mana.

Nossa vida nessa altura era um caos. Os dois trabalhávamos de dia e estudávamos á noite. Com uma criança de 5 anos que precisava de toda a atenção e nós não lha podíamos dar, era impensável ter mais outro filho. Enquanto esteve no infantário até aos seis anos, todos os dias eu a levava para o infantário. Levantávamo-nos às seis horas da manha para a deixar no infantário às sete e eu ia pegar no trabalho às oito horas. Depois de fazer um turno que ia das oito da manhã até às quatro da tarde, tinha apenas duas horas para mim. Entrava no liceu às sete da tarde e saía às vinte e três, chegava a casa, normalmente à meia-noite. Enquanto meu dia corria sempre numa correria, eu pagava a uma jovem para me ir buscar a filha ao infantário todos os dias e deixá-la em casa de uma vizinha que a recebia desde as 17horas até á meia-noite a quem também pagava uma mensalidade. Os recursos financeiros não eram muitos, mas o dinheiro lá ia dando para tudo, até para fazer um mês de férias fora do país que era a única fuga que podíamos ter daquele modo de viver que nos sufocava por falta de tempo.

Nossos fins-de-semana eram consagrados à família.

Durante o fim-de-semana dedicávamos todo o nosso tempo a ela. A casa ficava sempre para segundo plano.

Nossos objectivos foram-se concretizando á medida que continuávamos a estudar. Jamm, entrou na faculdade de Ciências com o objectivo de se formar em professor de matemática.

Mas esse não era o destino que lhe estava reservado.

Como jovem que era, começou a dar-se com colegas de faculdade. O que até ali para ele a família era sagrada, começou a inventar desculpas que tinha que ir estudar para trabalho de grupo, por isso todas sextas á noite ia sair para ir ter com colegas de faculdade, mas não para estudar como mais tarde pude, constatar. A desculpa que dava em casa começou a fazer-me desconfiar de que algo não estava bem. Enfrentei-o com todas as minhas dúvidas ao que ele me respondeu: - Ninguém na faculdade sabe que eu tenho família e não precisam saber, afinal nós até somos solteiros. – Estou por acaso a mentir? Claro que não Jamm, mas se a tua família te envergonha, e o que procuras na universidade é diversão, tem todo o direito a ela. És realmente solteiro e tens todo o direito a fazer da tua vida o que muito bem entenderes. Não podes é morar mais aqui. Arranja um quarto alugado e assim podes ir para lá estudar com as tuas colegas! A filha está numa idade que ainda não percebe tudo e se tens que ir embora que seja já. E não te preocupes connosco, porque nós vamos sobreviver. Se tu morreres eu não vou morrer também. Aquele meu discurso prático e frontal apanhou-o tão desprevenido que não soube o que me responder. Disse apenas: - dá-me três dias para pensar.

Assim, depois de três, sem ter uma resposta para mim, eu comprei-lhe uma mala e quando chegou a casa já tinha a mala feita. – Só lhe disse: - aqui estão as tuas coisas, tens que sair hoje de casa.

- Estás a fazer isso porque eu ganho menos que tu! É isso?

Não é isso, é só porque vejo que isto entre nós, não está a funcionar bem e eu prefiro que a minha filha tenha só mãe do que um pai ausente.

 Só que ele já tinha a solução para resolver o meu problema de ciúmes como ele lhe chamou na altura.

Calma lá, isto não é assim! Os cinco anos de aventuras, tudo isso não contam? Como podes pôr-me fora da tua vida assim? Eu não fiz nada, nunca te traí nem em pensamento.

– Andei a pesquisar e encontrei uma alternativa á faculdade que com o tempo dá-me progressão na carreira e será melhor para mim na reforma. – O quê? Começa a falar, porque estou curiosa, respondi-lhe prontamente. – Vou deixar a faculdade. – Como assim?

Depois de nos acertarmos novamente a harmonia voltou ao lar com ele a deixar a faculdade e a ingressar em altos estudos militares. Foi a melhor coisa que lhe podia ter acontecido. Ainda hoje com 57 anos fala disso.

Os anos foram passando e ele progredindo. Depois de três anos de curso, a situação financeira melhorou bastante. No dia que ele chegou a casa e me disse que tinha sido aumentado e já ganhava mais do que eu, fui buscar a mala e disse, podes ir embora!! – Mas estás louca! O que se passa contigo? - Isto é para tu perceberes que o que me prende a ti não é dinheiro, meu amigo. Sempre que tínhamos um desentendimento lá vinha á baila que eu até lhe comprei uma mala, para ir embora.
Eu desisti no 5º ano por falta de tempo para acompanhar a filha.

Quando ela fez oito anos, perguntou pela última vez se lhe dávamos uma mana, como a resposta foi não, então ela optou por pedir um cão. Já que não me podem dar uma mana podem ao menos dar-me um cão?

Assim entrou mais um membro na família, um ser tão especial que a ajudou a criar afectos e responsabilidades para a vida toda.

Nossas férias nunca mais foram as mesmas, com a chegada da lady, um caniche anã que conquistou toda a família.

E A HISTORIA CONTINUA

17/02/2011




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