Saturday, August 13, 2011

MINHA VELHA CADELINHA

FRANÇA - ALPES D'HUEZ

LISBOA-Saudando o dono

FRANÇA-ALPES

Carnac - Bretanha - França



16/7/2011
De início era pequenina, roliça
Aprendeu a andar a meu lado
Enquanto eu trabalhava
Em casa por mim esperava.
E os seus hábitos, quando eu chegava
A forma de demonstrar seu amor
Toda me lambia. E seguia-me, ladrando
Comigo aprendeu algumas regras
Que com amor lhe ensinava
A uma ordem, ela se sentava.
Com os outros, ladrava sem parar,
Assustava qualquer ladrão.
Guardava a minha casa
Seu tamanho era insignificante.
Mas perante um estranho,
Ela ladrava, ladrava.
A medida que foi crescendo
Nossa vida tomava. Dormia, e esperava
Era doce, meiga, amiga,
A todos encantava.
Ajudou a crescer, quem a desejou
Com ela brincou. Ela nunca a decepcionou.
As duas criaram laços,
A minha cadelinha fazia de modelo,
No sofá sentada, direita, calada,
Minha filha brincava como se fossem irmãs
Punha-lhe musica nos ouvidos,
Metálica, barulhenta,
Aquele pequeno ser, chamado Lady,
Nunca se queixou do tormento,
Mas logo que eu regressava
Mostrava logo os dentes.
Como que a dizer! Chega!
Ainda não estás contente?
Veio depois outro tempo,
Tudo roía a seu contento,
Se ficava sozinha em casa
 Sempre em algo se vingava.
Tirando isso, ela era paciente
Andou connosco pela vida fora,
Na nossa vida foi um presente.
Vinham as férias pela Europa,
Fronteiras para atravessar
A lady a meus pés calada,
Nunca se denunciou,
Cada obstáculo passado,
Ela subia para meu colo
Onde se sentia mais confortável,
Com música e ar condicionado
Estava no seu mundo e sonhava.
Veio a doença. Um sopro no coração
Era um martírio para lhe dar a medicação
Viajava connosco todos os anos
Certo dia,  subimos uma montanha
Ela já velhinha, doente
Numa mochila lhe fizemos a cama,
Ás nossas costas, apreciava o ar frio
Quando resolvemos pô-la no chão
Foi um espectáculo, vela andar sobre a neve,
Cada vez que dava um paço,
Levantava outra pata,
Difícil de entender, para ela
aquele manto branco,
Que seu caminho cobria.
Voltando, de novo, á mochila,
olhava o branco do chão
Só as orelhas se viam,
 mas não foi em vão
Naquele dia foi fotografada,
Por turistas que passavam
Imagem rara, uma cadela branca,
Dentro de uma mochila, toda encolhida.
Durante anos sempre nos fez companhia,
Depois do apogeu, chegou a recta final,
Tinha pelo dono um apego especial.
O dono foi sua principal companhia
Nos seus últimos anos de vida.
Sacrificava o seu almoço,
Ia a casa para estar com ela,
Nos seus braços a deitava,
E os dois, música clássica escutavam.
Ali ficavam aqueles dois seres
Mergulhados naquela arte
Ouvindo a quinta e a nona sinfonia,
A Ave-maria. O coro dos escravos Hebreus.
Aprendeu de musica clássica a gostar,
Passava horas pelo dono a esperar.
Quando o fim se aproximou,
Cinco dias pelo dono esperou.
Com o dono ausente, deixou de comer
Ele regressou, á pressa, só para a ver.
Nesse dia, minha cadelinha comeu,
Olhou para o dono. O seu regresso agradeceu.
Viveu em família, entre o soro e colo
Cinco dias mais, ela viveu.
Recordo o dia em que nos deixou,
Fomos dar o  passeio que preferia. À beira-mar.
Ainda nas aguas do mar, as patinhas molhou,
Coisa que ela adorava, correr pelo mar.
No regresso a casa, deitada na sua cama
Com um ar feliz, tinha a família junta
Em sofrimento e com emoção
Deu um suspiro maior. Seu coração parou.
Era o momento que ela esperava,
Família sempre unida, na hora da despedida
O dono, sua morte não aceitou.
E durante quase dois dias
No quarto com ela nos braços.
Os dois em profundo retiro.
Eu , limitei-me a esperar,
Que ele, dela se despedisse.
Desse ser que ele tanto amava.
Viria a seguir, para ele, a mais dura prova
Fazer com suas mãos, uma cova.
Onde seu corpo foi depositado
Na Serra de Sintra, num lençol branco
 Mensagens depositadas.
Nós os três unidos, ali chorando,
E ali a deixámos, em repouso.
E o regresso a casa, sem ela…
Foi um ser muito amado. E feliz.
E como nos fez felizes. E nos ajudou.
A amar incondicionalmente.
POR: JOAQUINA

No comments:

Post a Comment