Friday, February 4, 2011

NOSSO COMEÇO DE VIDA EM LISBOA


NOSSA PRIMEIRA FOTO JUNTOS

Quando cheguei do Equador, trazia comigo muita juventude e algum reforço financeiro aliado a uma força de vontade que era inata em mim.
Cheguei a Lisboa, logo a seguir deu-se o 25 de Abril. Esse ano revolucionou de tal maneira, minha vida, que nunca mais eu seria a mesma.
Com uma revolução que eu não tinha ideia nenhuma, do que seria uma revolução, vi-me de repente envolvida num clima de euforia do qual eu não me consegui inserir muito bem.

Estava na empresa onde me mantive por 26 anos.

Tudo era novidade para mim. Com o 25 de Abril, fui admitida nos quadros da empresa de telecomunicações onde trabalhei e dei o melhor de mim.
Enquanto a maioria das colegas iam para manifestações eu ficava no meu posto de trabalho, por não gostar muito de grandes reboliços. Assim acabei por me sentir mais útil.

Acabara de conhecer o grande amor da minha vida, que como eu éramos, livres, solteiros, sem amarras, mas muito carentes, depressa nossas vidas se uniram, de tal forma que não passávamos mais um sem o outro.

Claro que pela lei normal das coisas, logo se fez anunciar nossa filha, vinda de outra dimensão para nos obrigar a crescer e amar incondicionalmente.
Nossos sonhos era muitos e a pouco e pouco todos eles se iriam concretizar.

Meu companheiro que tinha estudado num colégio interno estava faminto de liberdade e amor.
Quando decidimos morar juntos o seu maior sonho era viajar, conhecer mundo.
No inicio não foi nada fácil. O dinheiro era pouco e os sonhos eram muitos.
Com uma filha pequena no infantário e nós os dois a trabalhar durante o dia e estudar á noite, não nos sobrava tempo nem para namorar nem para dar aquela atenção necessária que uma criança precisa.
Decidimos então que a filha estaria sempre em primeiro lugar, a casa teria que esperar por tempo disponível para ser arrumada.

Assim se passaram os primeiros cinco anos de vida em comum, numa correria, mas sempre com algum tempo, para brincar com ela e para desfrutarmos dos nossos corpos. Nossa filha era tudo para nós. Ela era nosso mundo, nossa força para viver.

Desde sempre fizemos questão de fazermos férias fora do País.
Começamos por andar á boleia por essa Europa fora. Passamos grandes sustos, mas também muitas aventuras inesquecíveis que ainda hoje recordo com carinho.

Uma das mais engraçadas vou contar-vos: No ano de 1977 tinha minha filha dois anos, deixamo-la com uma amiga e fomos de comboio até Espanha, a partir daí fomos á boleia. Passamos muitas horas com uma mochila às costas e outras tantas horas á espera de uma boleia. Bons tempos esses! que ainda se podia andar com segurança á boleia. Chegamos á Holanda de comboio, certo dia á uma hora da manhã. Como estava tudo fechado, resolvemos ir dormir num saco cama os dois num jardim público debaixo de uns arbustos. Eu cheia de medo meu companheiro mais tranquilo, disse-me: - enquanto estiveres comigo, estás segura, nada de mal te vai acontecer. Para alguém tocar em ti tem primeiro que se haver comigo. Dorme descansada que eu fico a vigiar por ti. Só que lá para meio da noite começamos a ouvir um pequeno barulho que não conseguimos identificar, os dois já assustados, ele levantou-se deu uma volta pelo jardim e não viu ninguém. Tinhamos conosco uma pequena faca que servia para fazer sanduíches e para descascar fruta, logo ele a enterrou na terra ao lado dele, no caso de vir alguém para nos fazer mal. Hoje não sei do que senti mais medo, se foi do barulho se foi de ver a faca tão perto de mim. O que é certo é que os dois acabamos por adormecer juntinhos dentro do mesmo saco cama. Ao acordar reparamos que andava um gato de volta da nossa mochila que continha alguma comida, e que tal como nós dormia no jardim.
Foi divertido depois de nos termos dado conta do medo que tivemos de um gato que só tinha fome e queria comer. Não sei quem teve mais medo, se fui eu, se foi o pobre gato… nessa altura ficávamos em albergues da juventude, onde os homens dormiam em camaratas separadas das mulheres. Nessa altura era a maneira mais barata de fazer férias.

Depois de estabilizarmos nossas carreiras vieram em seguida as viagens planeadas. Durante dois anos andamos á boleia. Ao terceiro ano já fomos com o nosso primeiro carrito que era uma Renault 4L. Era um carro comprado em segunda mão, mas portou-se sempre muito bem. Durante uns anos, levou-nos por essa Europa fora, sempre carregado, com uma tenda e tudo o mais necessário para fazer um mês de férias.

No comments:

Post a Comment