Monday, February 21, 2011

MINHA PROVA DE VIDA - 1ª parte

A MAIS DOLOROSA DAS MINHAS EXPERIENCIAS.
NÃO SEI, NEM POSSO DESCREVER,
O QUE SE PASSOU, DENTRO DA MINHA CABEÇA,
NESTE PERIODO DE HOSPITALIZAÇÃO
1ª parte tinha eu 33 anos
Ano 1983 pior ano da minha vida
O que aqui vou contar tem como intenção, avisar, informar, em especial, alguém que possa estar a passar pela situação que eu passei quando tinha 33 anos. Só espero que esta informação
Possa vir a ser útil a alguém. Se assim for, já valeu a pena ter passado o que passei, se conseguir com o meu exemplo ajudar outra pessoa.

Depois de todo as lutas iniciais, Já tinha comprado uma casa nova a vida financeira tinha melhorado, tinha-me conciliado com Jamm, sentia que tudo estava bem na minha vida. Sentia-me feliz.
Certo dia ao tomar banho reparei que o meu mamilos esquerdo deitava um liquido esbranquiçado. Entrei logo ali em pânico.
Jamm, estava ausente, num curso a 300 km distancia, achei por bem não o estar a desinquietar, afinal era um problema meu e seria eu que teria que passar por aquilo. Resolvi não contar logo.
Não podia falar com ninguém e sempre tive como característica, guardar tudo para mim. No entanto estava consciente da gravidade do problema. Quando ele chegou no fim-de-semana notou logo que algo de grave se passava. Quando lhe contei
O mundo desabou sobre ele. Nessa altura ele estava disposto a dar a sua vida por mim. Foi a prova mais bonita que ele me podia dar naquele momento. Sempre esteve do meu lado e sofreu tanto ou mais do que eu. Nunca me senti tão amada como naquele tempo em que tive que fazer um percurso terapêutico tão doloroso.

Tinha tido uma gravidez seguida, minha filha tinha nascido de parto normal e eu sentia-me lindamente. Mas havia um senão! Há sete anos que não ia a uma consulta de ginecologia.

Marquei consulta, tudo decorreu com normalidade com a médica a dizer-me que não via nada de especial no meu peito mas mesmo assim ia pedir-me uma mamografia. Na consulta fez-me uma colheita vaginal normalíssima.
Qual não foi o meu pavor quando abri o envelope e tinha como resultado CARCINOMA (CANCRO DO COLO DO ÚTERO)
Liguei logo para a médica que me pediu para estar no consultório no dia seguinte que mesmo sem consulta me receberia em primeiro lugar. Encaminhou-me logo para uma amiga que trabalhava em oncologia, ela própria falou com ela e no dia seguinte lá estava eu, com o resultado do exame.
A partir daí foi um corre, corre de um lado para o outro. Fiz todos os exames possíveis e imaginários. Toda a gente me procurava porque fazia aquele, ou outro exame. Via nelas compaixão por eu ser tão jovem. Devo aqui esclarecer que aquele tipo de carcinoma era dos mais difíceis de detectar e de curar, poucas pessoas sobreviviam a esse monstro: na minha cabeça algo me dizia, que ali algo não combinava. Por outro lado tinha uma filha com nove anos! Nunca se apercebeu da minha luta. Tudo fiz para que o seu dia-a-dia fosse o mais normal possível.
Logo nessa consulta em oncologia fiz um exame muito doloroso, ligaram-me a uma máquina com duas agulhas espetadas nos pés a um vaso linfático, para saber se o carcinoma já se teria espalhado pelo corpo todo, ou se ainda era apenas local. Lembro que a média de vida de alguém a quem fosse descoberto este tipo de carcinoma era de apenas seis meses, no máximo um ano. Depois do exame veio uma enfermeira dar-me os parabéns por conseguir fazer o exame completo porque a maioria não conseguia faze-lo por ser tão doloroso. Ainda hoje tenho as marcas nos meus pés para me lembrar que estou viva e posso hoje recordar o triste episódio.
Quando chegou o resultado do exame aos vasos linfáticos, era negativo, isso já era um grande alívio, mas o diagnóstico do carcinoma mantinha-se. Fui a oncologia a nova consulta. Novamente me sujeitei a uma biopsia alargada (raspagem de todo o útero), com anestesia geral, como já estava anestesiada, aproveitaram para me porem agulhas de rádio no colo do útero.
Levaram-me para uma enfermaria com quatro camas com pessoas com idades compreendidas entre os 60 e os 80 anos de idade. Eu tinha muito mau despertar da anestesia e não avisei.
Quando comecei acordar, deveriam ser umas 20 horas e logo me levantei da cama. As senhoras de idade tentaram impedir meu acto, todas tocaram as respectivas campainhas, mas não apareceu ninguém.

Despi a bata que me tinham vestido, saí para o corredor e só dizia que tinha que ir para casa porque tinha lá a minha filha.
Até que alguém, me viu nessa figura no corredor e foi chamar uma enfermeira. A seguir a enfermeira teve que ir procurar um médico, e lá me levaram novamente para a minha cama e desta vez amarraram-me com correias á cama depois de me terem dado uma injecção de cavalo para dormir e só acordei no outro dia pelas 9 horas da manha. Quando acordei reparei que a cama estava virada ao contrário e meus olhos virados para a parede onde existia um letreiro com o nº da sala e da cama, nessa altura estava uma enfermeira sentada junto á minha cama, que quando viu que eu estava acordar perguntou: - sabe onde está. Consegue ler aquele letreiro? O que ele diz? Aos poucos fui acordando e ligando os sentidos novamente. Perguntei: - porque estou eu amarrada á cama. Minha filha em que trabalho nos meteu ontem por pouco não morreu. já viu em que carga de trabalhos nos metia a todos. Mas porquê? Levantou-se com 8 agulhas espetadas no colo do útero se caísse, espetava as agulhas nos intestinos e noutros órgãos internos e podia morrer. – Mas não morri, ainda não chegou a minha vez. Agora por favor pode me retirar as correias por favor. – Promete que se porta bem? – Prometo. Tenho muita fome. Sabe não se pode nem sentar tenho que ser eu a dar-lhe a comida, entende isso? Sente-se já bem acordada? Ontem chamou tanto pela sua filha que nos deixou a chorar. Sua marota o que nos ia arranjando a nós e a si também. Trouxeram-me um caldo líquido que não me tirou a sede muito menos a fome e uma maça reineta assada. Contestei que a comida era muito pouca e continuava com fome. Ela com pena de mim lá explicou que eu estava com uma algália e não podia nem comer nem beber muito por não me poder levantar para ir aos sanitários. Aguentei, assim dois dias. Quando me retiraram as agulhas, deram-me alta.
Marcaram-me nova consulta para ir saber os resultados da biopsia alargada.

 Sofri horrores, mas eu só pensava na minha filha que precisava de mim. Foi uma época de grande sofrimento, e confusão mental e como podem imaginar ninguém está preparada para morrer aos 33 anos.

Passadas duas semanas chega o diagnóstico da biopsia alargada.
Resultado negativo. Para mim foi um alívio, para a classe médica não foi. Nova consulta, marcam-me internamento em oncologia.
A única satisfação que me deram: - Todos os exames que fez estão negativos, mas dado a sua idade e haver a possibilidade de ficar uma só célula que seja isolada no seu organismo, nós por precaução, vamos tirar-lhe o útero e os ovários. Irá receber em casa um postal com a data em que deve apresentar-se para esse acto cirúrgico. Fiquei ainda mais confusa. Afinal tinha passado por tudo aquilo e não tinha nada e ainda por cima vão-me tirar o útero e os ovários, algo dentro de mim não batia certo.

Durante esse percurso andei sempre sozinha de consulta em consulta, de exame em exame, até para oncologia fui sozinha. Meu marido estava num curso longe de casa e não podia fazer nada por mim. Minha filha estava em casa de uma amiga e para ela eu estava de férias e logo regressaria.

Regressei a casa por um lado feliz, por outro com muitas duvidas.
Peguei no 1º diagnóstico fui ver quem tinha assinado o relatório. Peguei no telefone e liguei para casa do médico que por sinal era o dono do laboratório.
Pedi desculpa pela hora tardia, deviam ser umas 10 horas da noite, expliquei-lhe que tinha saído naquela tarde de oncologia e relatei-lhe toda a minha história, e o que me preocupava mais era ter que ser operada e não poder ter mais filhos, quando eu queria ainda ter mais um filho. Foi muito gentil comigo e mandou-me estar no laboratório pelas 10hoo da manhã para falar comigo pessoalmente. Nessa noite não consegui dormir. Tinha tantas dúvidas na minha cabeça, mas o meu lado positivo sempre me disse que aquilo não podia ser verdadeiro.
No dia seguinte, recebeu-me reviu as lâminas do seu laboratório,
Meteu-as dentro de um envelope com um cartão dirigido ao director dos serviços de patologia de oncologia e disse: - entregue só este envelope nas mãos desta pessoa e diz que vai da minha parte que ele vai recebe-la, esse senhor foi meu aluno e não vai deixar de atender ao meu pedido.
A senhora é muito jovem, mas se ele lhe disser que tem ou teve
Acredite nele, se lhe disser que não tem nem nunca teve, pode confiar plenamente nele. Assim fiz. Esperei 3 horas enquanto ele reviu todas as lâminas do meu processo. Quando chegou ao pé de mim pediu muita desculpa pela demora, mas que tinha boas notícias para mim. – A senhora não tem, nem nunca teve carcinoma, isto deveu-se possivelmente a um erro de dactilografia. Aconselho a senhora a esclarecer isso agora com o laboratório Dr. mas eu já levei rádio, segundo me explicaram os meus ovários vão secar. – O quê? Quem lhe fez isso? Se a biopsia alargada feita aqui no instituto dá negativa? Nos mesmo dia que me fizeram a biopsia puseram-me o rádio. – Não acredito! Peço-lhe imensa desculpa, mas a medicina errou demais consigo. Vou saber quem foi a equipa que fez semelhante crime. Mas infelizmente o que está feito não se pode desfazer. Terá que ir á sua ginecologista para lhe fazer tratamentos hormonais para não lhe deixarem parar os ovários.
Saí dali feliz, aliviada, mas também muito revoltada.
Minha epopeia não pará por aqui.

Com a informação obtida no instituto, dirijo-me novamente ao laboratório, mas uma vez contei a minha história, andava eu nisto havia uns 3 meses. Depois de várias reuniões e vários pedidos de desculpas lá chegaram a triste conclusão.

Todos os exames do laboratório tinham um número, ao meu nº deu o diagnóstico do exame de outra pessoa e á outras pessoas deram-lhe o meu.

Mas a minha luta continua.
Os erros médicos não acabaram aqui.
O que veio a seguir, deixou-me sempre de pé atrás com diagnósticos médicos.
Vale a pena seguir a fase seguinte.
Por hoje já chega, de recordações dolorosas.
Agora durante um tempo vou voltar á poesia,
que tem o poder de me lavar a alma.
Meus leitores (as), não desistam deste blog,
porque ainda tenho muito para contar.
Obrigada a todos os que me seguem.
Por: Joaquina

17/02/2011

1 comment:

  1. Bom dia,Joaquina...
    Desistir de seu blog,seria desistir de saber de uma historia de vida, de uma heroina,de um exemplo de guerreira.!
    Obrigada por apresentar tanta força para mim.
    Abraço.
    Regine.

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